A prioridade da nossa pesquisa é gerar produtos de natureza colaborativa que conectem formação e qualificação profissional às demandas e desafios da rede de atenção, integrando formuladores de políticas, pesquisadores, trabalhadores e segmentos estratégicos da sociedade organizada. Apesar das condições muitas vezes adversas e da incipiência de investimento na sua formação, os profissionais de saúde constroem práticas e produzem respostas improvisadas ao sofrimento psíquico orientadas pelo seu repertório de competências e habilidades. Mas sempre afirmativos em relacao a necessidade de acesso à conhecimentos do campo da saúde mental, o que sempre nos motivou a fazer esse esforço coletivo de pensar um roteiro de formação para a atenção básica. Partimos entao para a nossa jornada de construção de um piloto que possa trabalhar conteúdos e conectar saberes, com conteúdos curriculares que problematizem o processo de trabalho e a própria organização do modelo de atenção, sempre tomando como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações.
Na nossa pesquisa constatamos numerosas experiências que já incorporam os aspectos sociais e culturais do processo saúde-doença-cuidado e um evidente fortalecimento de saberes não biomédicos, apesar da referencia ainda hegemônica deste no campo da saúde em geral. São experiências ligadas à educação profissional, educação popular, praticas integrativas, corporais, grupais, comunitárias. Práticas com grande potencial para se constituir como abordagens psicossociais inclusivas para os usuários que vivenciam sofrimentos psíquicos.
Daí nasceu o projeto do nosso Roteiro de Apoio para Criação e Facilitacão de Processos Formativos em Saúde Mental para a Atenção Básica, incorporando conteúdos que possibilitem aos profissionais uma compreensão crítica do campo da saúde mental e estimulem seu engajamento como protagonistas nesse caminho formativo. Nos preocupamos em não trabalhar com um modelo fechado e sim um piloto com potencial de adaptação para diversos níveis de escolaridade e tipos de curso, sempre dentro da temática de Saúde Mental para a Atenção Básica. Ele pode tomar a forma de uma palestra, um mini-curso, um módulo dentro de um curso mais longo, uma formacao institucional ou nao para diferentes publicos. Destacamos aqui alguns momentos desse caminho metodologico da sua construcao. Em primeiro lugar a busca de currículos de cursos virtuais ou presenciais de âmbito nacional através da qual constatamos a supremacia de um direcionamento para a visão biomédica, com ênfase em diagnósticos psiquiátricos e informações sobre fármacos, e uma carência de conteúdos de natureza psicossocial. Realizamos também uma oficina ampliada de pesquisa com diversos trabalhadores de multiplas categorias (Acs, dentistas, medicos, tecnicos de enfermagem e enfermeiros), profissionais convidados que nos ajudaram a problematizar e discutir temas do processo de trabalho na atenção básica a serem incorporados ao currículo. Por fim, desenvolvemos a sistematização e testagem do protótipo em duas oficinas, num esquema de trabalho intensivo, com uso da metodologia SPRINT de criação e formulação de conteúdos, chegando a sua forma atual.
O nosso roteiro trabalha com a perspectiva da diversidade, do sofrimento psíquico e dos desafios contemporâneos da saúde mental na nossa sociedade. Buscamos conteúdos que apresentem a discussão sobre saúde mental como parte do campo da saúde pública e associada a questões da cultura e da sociedade, numa linguagem adaptada ao universo dos profissionais não psi, em especial as equipes da Estratégia Saúde da Família. O nosso objetivo geral inclui enfrentar os desafios da inclusão de sensibilidades e ações de saúde mental na atenção básica, promover conexões com o território e a rede de organizações sociais e lideranças locais para que se produzam projetos efetivos de transformação dos contextos de vida e saúde.
Esperamos que se transforme em uma ferramenta de trabalho a ser aplicada com liberdade de adaptação aos diferentes contextos locais, objetivos pedagógicos e públicos alvo da experiência de formação!
Que, sobretudo, seja útil para a criação e facilitação de múltiplos processos formativos éticos, políticos e técnicos!
Acesse o roteiro completo aqui e boa leitura!
Outras produções da pesquisa:
Abordagens psicossociais e redes territoriais de cuidado em saúde mental na APS (teaser/vídeo)
Desafios da saúde mental na atenção básica (Sinopse da pesquisa, pdf)
Saúde Mental para a Atenção Básica (Livro/coletânea de artigos)