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Em Abril do ano de 2017 profissionais da Saúde e Assistência Social discutiram sobre alguns usuários da Assistência Social que circulavam pelo CRAS do município, possivelmente uma demanda de Saúde Mental, porém não haviam chegado até a unidade de saúde onde os profissionais da saúde mental atendiam. Buscavam no espaço do CRAS acolhimento, convívio social e alimentação, mas principalmente um lugar de escuta para suas histórias. A partir desse momento o psicólogo, a estagiária de psicologia e a assistente social do NAAB pensaram em um espaço onde estes usuários pudessem ter momentos de convívio social, dando voz aos seus sentimentos, suas histórias e vivências. Todas estas pessoas tinham em suas histórias de vida passagens por internações psiquiátricas e relatos de situações difíceis que enfrentaram neste período em que as internações eram compulsórias. Estes pacientes faziam uso de medicações controladas, a maioria são de baixa renda ou sem renda e alguns não tinham contato com suas famílias
Nesse espaço os participantes ofertaram a todos e todas presentes momentos de muitos aprendizados e trocas através de suas histórias e experiências vividas.
Os encontros são semanais e alguns acordos são relembrados frequentemente, como a questão do sigilo e do respeito as opiniões de cada um. Durante os encontros são pensados pelos próprios participantes algumas atividades, como passeios, pic-nics, participação em eventos, amigo secreto e comemorações de aniversários.
De forma geral os encontros são muito proveitosos e construtivos, embora em alguns momentos se depare com questões sociais difíceis de lidar, como desemprego, falta de uma ocupação diária, compreensão da família em relação a seus limites detendo-se muitas vezes apenas na doença e/ou na necessidade de medicação e não nas múltiplas possibilidades que estas pessoas tem a oferecer.
Três Cachoeiras é uma cidade do Litoral Norte Gaúcho, e possui aproximadamente 10.900 habitantes. Desta forma, o cuidado em saúde mental se dá no âmbito da atenção básica, através das Estratégias de Saúde da Família, pois não há uma rede específica de atenção psicossocial para o cuidado de pessoas diagnosticadas com transtorno mental grave. Nesse contexto surgiu o grupo Conviver Amizade, como um dispositivo de cuidado à saúde mental e também como um espaço de resistência a tratamentos que priorizam a medicalização e hospitalização de pessoas diagnosticadas com transtornos mentais graves. Assim, o grupo prioriza a produção de ações internas e não de internações.
A prática proposta surge em decorrência de inquietações relativas à falta de um espaço que acolhesse as demandas de usuários que enfrentavam no cotidiano as consequências dos estigmas relacionados a transtornos mentais. O grupo Conviver Amizade apresenta-se neste território, como uma intervenção psicossocial, com intuito de fortalecer as vozes desses usuários e assim, propiciar uma circulação no espaço público, reconhecida pela comunidade.
O grupo Conviver Amizade é desenvolvido pelos profissionais do NAAB - Núcleo de Apoio à Atenção Básica e faz parte da Secretaria da Saúde do Município de Três Cachoeiras. A viabilidade do local de realização do grupo é devido a uma parceria com o Centro de Convivência dos Idosos, onde ocorrem os encontros.
- Acolher e dar voz a usuários egressos de internações psiquiátricas, e que sofrem com estigmas advindos de diagnósticos de transtornos mentais.
- Fortalecer a rede de cuidados em saúde mental.
- Estimular a ocupação dos espaços públicos.
- Fortalecer de vínculos;
- Proporcionar novas experiências de convívio e lazer.
A partir de uma conversa em rede entre técnicos de Saúde e Assistência Social se propôs a criação do grupo Conviver Amizade, que acontece semanalmente no centro de convivência da cidade, com duração de uma hora e meia. Os participantes aderem através da divulgação e ou convite das equipes de saúde e dos usuários, tornando-se assim um grupo aberto. O grupo utiliza o método de roda de conversa, com os conteúdos trazidos pelos usuários e quando desejado outras atividades são organizadas pelo grupo, como passeios, confraternizações e atividades artísticas.
O grupo foi nomeado por seus integrantes, e em conjunto elaborou-se alguns combinados, relativos ao contrato terapêutico do grupo, priorizando questões relativas ao respeito entre os participantes do grupo, o sigilo quanto aos conteúdos trazidos nos encontros, a assiduidade e a livre expressão. Sempre que há a entrada de um novo integrante ou quando se faz necessário, as bases do contrato terapêutico são reafirmadas.
Ao longo dos encontros, instituiu-se um momento de abertura, em que algum participante, de forma espontânea, pode cantar uma música ou ler uma mensagem. O grupo possui, na maioria dos encontros, dois profissionais da saúde, atualmente da área da psicologia e assistência social, que ocupam o papel de facilitadores neste processo. Após o término da roda de conversa, que tem em média uma hora e quinze de duração, é ofertado aos participantes um café para confraternização.
O grupo Conviver Amizade possui mais de dois anos de existência e resistência, consolidando-se como um importante dispositivo de cuidado em saúde, reconhecido pelas equipes de saúde do município e pela comunidade em geral. A assiduidade é um aspecto importante que fomenta constantemente o desenvolvimento do grupo e amplia o vínculo entre os participantes. O grupo demonstra a potência de um espaço de fortalecimento de vínculos e os benefícios do compartilhamento de experiências e estratégias de autocuidado. Um fato importante diz respeito a diminuição do número de internações psiquiátricas desses usuários e a construção de um espaço crítico em relação aos seus direitos sociais e possibilidades de tratamento em saúde mental.