Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

A Voz dos Usuários: Experiências e Superações em Saúde Mental

"Cada um dos usuários a partir de suas experiências de superação/tratamento compartilha depoimentos sobre o que vivem no contexto da saúde mental. O grupo convoca à elaboração de novos sentidos para o transtorno mental. Tal como um dos usuários retrata, renascer implica um novo e grande sentido, pois é um re-encontro consigo, o sentido de ter sido tão inútil para o mundo e começar a perceber a existência da vida sob outra forma. Portanto, desde 2011 nos organizamos como projeto ‘A voz dos Usuários’ desenvolvendo trabalhos para aqueles interessados na saúde mental e proporcionando um espaço de divulgação sobre temas afins."
Rio de Janeiro - RJ
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Alan Coutinho Cena, Santos, Veríssimo Bernardo Lima, Guilherme Carey, Elizabeth Sabino, Aparecida Lopes, Ilmar Carvalho Filho, Orlando Vinícius de Barros, Orlando Baptista, Luiz Eduardo de Souza, João Batista dos Santos, André Oliveira, Renato Moraes, Milton, Octávio Serpa Jr, Mônica Peixoto
alancenacoutinho@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Anexo do Hospital Dia do IPUB - Botafogo, Rio de Janeiro, RJ Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo afetivo: 

Em rodas de conversa, nosso grupo compartilha experiências vividas como usuários da rede de saúde mental com alunos, profissionais, familiares, outros usuários e comunidade em geral. Acreditamos que um lema importante a ser levado em conta é considerar aquilo que sentem, alcançando a narrativa singular de cada usuário. O companheirismo dos colaboradores na jornada das rodas de conversa permite que caminhemos a cada passo. Dia a dia superamos desafetos e procuramos transformá-los em afeto.

Motivações: 

O grupo é fruto da parceria entre professores e pesquisadores do Laboratório de Psicopatologia e Subjetividade e o grupo A Voz dos Usuários. A história desta parceria remonta ao ano de 2005. Nesse ano, a disciplina Psicopatologia Especial I (atualmente Psicopatologia I), oferecida aos alunos de graduação do curso de psicologia da UFRJ, passou por reformulação de conteúdo programático e sobretudo de metodologia de ensino. Era do entendimento dos professores responsáveis que uma Psicopatologia exclusivamente descritiva, objetivista, em terceira pessoa representava um significativo empobrecimento humano e intelectual para o estudo do fenômeno psicopatológico. Este fenômeno é um evento experienciado subjetivamente por uma pessoa em contexto e exige, portanto, uma abordagem que não elimine os seus aspectos subjetivos e intersubjetivos. Foi nesse contexto que um grupo de usuários do Centro de Atenção Diária (CAD) do IPUB/UFRJ foram convidados a participar das aulas da referida disciplina, ocupando uma posição ativa na transmissão de suas experiências de sofrimento psíquico, de tratamento e de superação. Nascia aí o grupo que, a partir de 2011, adotou como nome A Voz dos Usuários. O grupo, formado inicialmente por 12 usuários, passou a se reunir semanalmente para organizar a estrutura das aulas e trocar impressões sobre as mesmas, junto com os consultores e apoiadores acadêmicos do grupo – professores, pesquisadores e alunos do Laboratório de Psicopatologia e Subjetividade. *Trecho retirado do artigo sobre o grupo, citado logo abaixo

Parcerias: 

O grupo se reúne semanalmente no IPUB para organizar sua agenda de atividades e refletir sobre os temas tratados. Para além das rodas de conversa, os integrantes elaboram poemas, poesias e textos temáticos, segundo o critério de cada um, o que proporciona formas distintas de afirmação de identidades, que são compartilhadas nos meios virtuais. O objetivo da iniciativa era contribuir para a formação de profissionais mais sensíveis, além de colaborar para o enfrentamento do estigma. Assim, os usuários elencaram os temas em saúde mental a serem debatidos, ocupando uma posição ativa por meio da transmissão de suas experiências de sofrimento psíquico. Desde então, o grupo tem expandido seu território de atividades e atualmente realiza rodas de conversas regulares com alunos de medicina, enfermagem e psicologia, além de atender convites internos e externos de outras instituições, públicas e privadas.

Objetivo: 
  • Conceder voz e importância ao ponto de vista dos usuários
  • Ajudar na formação dos profissionais.
  • Compartilhar nossas experiências de sofrimento psíquico e social.
  • A partir das nossas experiências, produzir reflexões.
  • Auxiliar na superação da crise.
  • Divulgar e ampliar nossa prática.
     
Efeitos e resultados: 

Desde o seu surgimento, o grupo tem adquirido longa experiência nessa árdua caminhada de divulgação sobre a experiência da enfermidade mental. Ao compartilhar sobre seus quadros, os usuários são convidados a se inserirem cada vez mais na instituição da qual fazem parte, de modo que a sua permanência depende em muito de um modelo de atenção psicossocial que busque empreender no ramo das práticas inspiradoras, novas possibilidades de gerenciamento de si. Nosso trabalho visa um descortinar sobre a loucura, convocando-nos a encarar o adoecimento mental frente às dificuldades de superação, bem como demonstrar o que tem produzido deslocamentos positivos diante ao alcance das atividades do grupo. Práticas como essa revelam a necessidade de reinvenção das práticas institucionalizadas no ambiente psiquiátrico. Nessa época de tantos preconceitos, a compreensão da verdadeira integração dos colaboradores com a enfermidade mental deve nortear o trabalho em saúde mental, entendendo que a adversidade das contingências de cada um deve ser respeitada e acolhida no sistema de saúde, e jamais justificar sofrimentos ou práticas manicomiais, dado o abominável histórico que constituiu em muito a história da loucura no Brasil, e que hoje, frente a governos retrógrados, se vê na iminência de retrocessos.

Ao falar sobre suas histórias, os usuários se veem na possibilidade de minimizar seu sofrimento psíquico e estigma, na medida em que se empoderam de suas histórias de vida, se tornam protagonistas de suas próprias narrativas e mostram para a sociedade que mesmo diante do sofrimento psíquico são, ainda, empoderados e autônomos, e devem ser ouvidos. Há mais do que nunca, a inconfundível necessidade de ouvirmos essas histórias e trabalharmos para a socialização e emancipação de sujeitos, aumentando nosso cenário de reinvenções frente a um entendimento da loucura.
 

Conte um pouco mais: 

*Importante destacar que os usuários do grupo colaboraram na elaboração desse texto.

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