Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Visibilidade e empoderamento negro de estudantes de enfermagem através da fotografia

Rio de Janeiro - RJ
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Tayná Leonardo da Silva; Thauanne de Souza Gonçalves Nas imagens: Andressa Leal; Anne Elizabeth; Joyce Meireles; Tayná Leonardo; Thais Nadine
tayna.leonardo@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Centro Acadêmico de Enfermagem Sandra Cristina Feitosa
Resumo afetivo: 

O espaço da Universidade Pública é historicamente elitizado e embranquecido. Com o advento das políticas de acesso e permanência a diversidade tem aumentado nesses espaços. No entanto, a inserção de indivíduos em lugares que historicamente não fizeram parte do cotidiano de suas famílias e ancestrais, tende a ser difícil e carregado de conflitos de classe, raça e gênero. Dessa forma, o projeto desenvolvido teve como objetivo promover a visibilidade dos estudantes negros da enfermagem através de fotografias e enaltecer a resistência de negritude no cenário da universidade e da saúde. O ideal era ressaltar o processo individual de cada universitário negro, entendendo que as diversidades e o poder que representam na sociedade transcende o campo estético social. Além disso, reconhecer a ancestralidade negra e a diversidade de tons, cores, traços, que envolve a população negra é essencial no campo da saúde, em que padrões estéticos são adotados muitas vezes escondidos sobre o nome de “normas técnicas”. A intenção do projeto foi empoderar os estudantes participantes e fazer com que fossem representados. As expectativas iniciais foram ultrapassadas criando um grande reconhecimento entre eles, que iniciaram a partir de então a criação de um coletivo negro dos estudantes de enfermagem da UFRJ. Dessa forma, foi possível perceber que a fotografia é uma possibilidade de fortalecer a negritude no cenário acadêmico e de saúde.

Contexto: 

O presente trabalho foi construído a partir do crescimento do ingresso e da permanência da população negra na Universidade Pública, questão sempre muito presente nas discussões do movimento estudantil. A partir da atuação da gestão de 2017 do Centro Acadêmico de Enfermagem Sandra Cristina Feitosa, que tinha como presidente e vice-presidente as autoras deste projeto, percebeu-se a necessidade de incentivar o debate sobre questões raciais e promover o reconhecimento dos estudantes negros como pertencentes ao espaço universitário. A fotografia foi a forma escolhida para essa exaltação da beleza e da grandiosidade de ser negro na universidade. Este trabalho foi desenvolvido como uma atividade da semana da consciência negra. Os resultados foram tão positivos que o grupo participante do projeto fundou um coletivo negro de estudantes de enfermagem denominado Coletivo Negro Mary Seacole, em homenagem a uma precursora da enfermagem jamaicana que, assim como a patrona reconhecida da enfermagem, porém com muito menos reconhecimento, cuidou dos soldados feridos na guerra da Crimeia durante o século XIX.

Motivações: 

A proposição da prática dentro do espaço da universidade foi essencial para alcançar o objetivo de fazer o estudantes se entenderem como parte e protagonistas do espaço. Os estudantes foram convidados a utilizar o jaleco da instituição e elementos próprios culturais, como forma de mostrar a integração dos saberes ancestrais com a ciência. O racismo ainda é presente nas cadeiras da universidade, por isso essa demonstração de empoderamento tem um valor simbólico que ultrapassa o seu local de realização.

 

Parcerias: 

O projeto foi desenvolvido de forma independente pelas autoras e pelos participantes. No entanto, o Centro Acadêmico de Enfermagem Sandra Cristina Feitosa e seus espaços de discussão foram essenciais na idealização do projeto e na aproximação dos realizadores.

Objetivo: 

Promover a visibilidade dos estudantes negros da enfermagem através de fotografias e enaltecer a resistência de negritude no cenário da universidade e da saúde.

Passo a passo: 

Ocorreram duas sessões de fotos nos espaços do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo como participantes os estudantes de graduação em Enfermagem voluntários. Foi assinado termo de autorização do uso de imagem. As fotos foram tiradas pelas idealizadoras do projeto com câmera Sony Nex F3B, lentes SEL1855 e resolução 16.1 MP. A mostra completa é composta por 15 fotografias coloridas e não editadas.

Efeitos e resultados: 

A mostra pretendia enaltecer a existência dos estudantes negros na universidade pública, contudo, essas expectativas foram ultrapassadas. O projeto ajudou na integração dos estudantes e na construção da identidade do grupo que culminou na criação do Coletivo Negro Mary Seacole. A iniciativa foi considerada muito bem sucedida e os estudantes manifestaram muita alegria e orgulho ao observarem as fotografias. Inicialmente divulgadas em redes sociais, as fotografias foram muito bem recebidas pela comunidade acadêmica e pelos familiares dos participantes que demonstraram grande realização de ter os filhos dentro da universidade. Os estudantes foram sempre reconhecidos como protagonistas do projeto e tiveram autonomia para atuarem livremente nas sessões fotográficas. Não houveram intervenções nem edições nas fotografias, a beleza e a força dos resultados advém simplesmente da graciosidade e do poder dos participantes serem quem são.