- Campo do Saber
- Campo de Prática
- Público Alvo
A partir desta experiência foi possível afirmar que o trabalho da saúde mental é mais semelhante ao trabalho da atenção básica do que da maioria das outras especialidades da saúde. As dificuldades enfrentadas neste percurso foi de enorme relevância para a reflexão, e contribuiu para que pudéssemos perceber que a saúde mental e a atenção básica não têm em comum apenas a responsabilidade por uma população determinada de pacientes. Os dois tipos de atenção à saúde adotam uma perspectiva clínica que compreende o tratamento e a reabilitação como um “continuum” e não como intervenções distintas e pontuais.
Esta experiência relatada ocorreu no município de Silva Jardim que possui 21.349 habitantes. Município de pequeno porte, localizado no interior do estado do Rio de Janeiro. Possui uma cobertura da atenção básica de 98%. A Rede de Atenção Psicossocial é considerada completa para um município de pequeno porte. Em Janeiro de 2017 foi proposta a equipe técnica do CAPS uma nova organização de acompanhamento aos usuários. Buscou-se considerar a necessidade e importância da aproximação com a atenção básica e foi alterada para o acompanhamento através de territórios. A divisão da equipe acontecia através da consideração de vínculos e projeto terapêutico. A nova proposta foi realizar o acompanhamento dos usuários por divisão de território através das áreas de cobertura de acordo a divisão da atenção básica.
Tomando como encargo a proposição da Política Nacional de Saúde Mental de consolidar o cuidado psiquiátrico na esfera da Atenção Básica, e considerando que as práticas de saúde mental estão cada vez mais focadas no eixo territorial é que nos propusemos realizar esta experiência. Um dos grandes desafios do SUS é a viabilização e qualificação da atenção aos usuários que necessitam, de forma pontual ou continuada, de cuidado especializado. É sabido que no Brasil, em geral, não há tradição de diálogo personalizado entre profissionais de serviços diferentes, nem construção coletiva de projetos terapêuticos quando necessário, nos serviços e, muito menos, entre eles. No município de Silva Jardim não estava ocorrendo a parceria na construção do Projeto Terapêutico Singular dos usuários do CAPS com a atenção básica e identificamos através da aproximação com a equipe da estratégia de saúde da família que isso poderia ser fortalecido, e que podem e devem realizar, articulado com o suporte das mini equipes do CAPS.
- Cobertura de acesso: aumentou ou diminuiu?
- Construção ou manutenção do vínculo com usuário: fortaleceu ou desconstruiu?
- Articulação com a atenção básica: Ocorreu? Foi favorável?
- Aspectos gerais: Vantagens e desvantagens da mudança.
Propôs-se a investigar o número de novos usuários cadastrados no CAPS, no período de 10 de junho a 31 de dezembro de 2017, realizando uma auditoria dos registros dos usuários, com verificação de atendimento e novas triagens no prontuário. Utilizamos como base metodológica a pesquisa quanti – quali, através da pesquisa ação – participação. Também foi realizado um grupo focal com a equipe técnica do CAPS com o objetivo de promover uma avaliação desta mudança de estratégia e uma reflexão sobre as barreiras de acesso ao tratamento em saúde mental no município de Silva Jardim, RJ. Com relação aos modelos organizativos, a rede de cuidado foi organizada por bairros e por divisão da área programática da atenção básica de saúde, com suas gerências locais. Cada território sanitário foi dividido em uma das três mini equipes que compõe a equipe técnica do CAPS. Durante o grupo foi discutido a Portaria publicada em 2011 pelo Ministério da Saúde que cria a Redes de Atenção à Saúde (RAS) que segundo, MENDES (2011) devem ser compreendidas como um arranjo poliárquico.
Na consulta com os arquivos foram encontrados 82 novos prontuários. A partir deste resultado foi possível constatar que houve um aumento de 38% em 11 meses de mudança de estratégia de intervenção. Durante o grupo focal a equipe refletiu sobre como foram às intervenções realizadas, visto que as equipes foram até as Unidades Básicas de Saúde a fim de realizar uma aproximação e levantamento territorial com a equipe da atenção primária. Nesse novo modo de organização proposto, o acompanhamento das pessoas que necessitam da atenção especializada do CAPS passou a ocorrer de forma mais próxima ao território destacando a importância assim de garantir o acesso não apenas com o aumento do número de pacientes que foram referenciados ao CAPS mas como forma de garantir o acesso através da garantia da qualidade no cuidado integral a saúde. Assim, é defensável que a mudança na estratégia do acompanhamento dos usuários do CAPS não apenas aumentou mas como também qualificou o cuidado.