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O Grupo Cultivarte foi criado e a partir de encontros realizados em oficinas terapêuticas na Atenção Básica, no âmbito de ações de atenção psicossocial que buscam romper com modelos de tratamento estritamente medicamentoso. Ações de atenção psicossocial, orientadas pelo princípio da equidade, a fim de buscar incluir, prioritariamente, aqueles sujeitos em condição de maior vulnerabilidade psíquica e social.
O Grupo Cultivarte vem se constituindo por pessoas com histórico de sofrimento mental e exclusão, bem como por pessoas que se solidarizam com ações no sentido de reverter tal situação de exclusão social ou estigmatização em torno daquele que enlouquece. No Grupo Cultivarte, laços comunitários vêm se fortalecendo, ampliando o território afetivo de convívio a cada encontro, cujo entrelace da promoção de saúde e inclusão social, agrega a mobilização social e sopros de vida e autonomia.
Nesses sopros de vida, o Grupo Cultivarte vem tecendo sua TEIA, seus percursos, que vão da micropolítica aos impulsos das políticas públicas; do desejo de território aos desejos de desterritorialização; do acolhimento da instituição parceira à desinstitucionalização que conduz ao acolhimento de outros lugares possíveis.
A experiência do Grupo Cultivarte evidencia a clínica do laço social, amparada pela mediação entre o singular e o coletivo, no incessante e necessário movimento de recriação da vida.
Este trabalho traz uma escrita em construção, a partir dos esforços cotidianos das Equipes de Saúde Mental, Enfermagem e Clínica Médica, que em cada ato, em cada tempo, dedicam-se a uma práxis comprometida com o princípio da equidade preconizado pelo SUS, com atenção ao caso, conforme a maior necessidade, e orientada pelos princípios da Saúde Coletiva. Trata-se, de uma experiência que vem sendo construída coletivamente na assistência à saúde mental dos usuários das Unidades Básicas de Saúde do Jardim Industrial e Vila São Paulo, ambas pertencentes ao Distrito Sanitário Industrial, município de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, MG.
A Rede de Saúde Mental de Contagem contempla: 04 (quatro) CAPS (02 CAPS III, 01 CAPS-AD e 01 CAPSi); 137 (cento e trinta e sete) Equipes de Saúde da Família distribuídas em 08 (oito) distritos sanitários, 12 (doze) Núcleos de Apoio à Saúde da Família e 08 (oito) Equipes Intermediárias de Saúde Mental; 01 (um) Centro de Convivência articulador do Projeto TEIA; 02 (dois) Serviços Residenciais Terapêuticos.
O Grupo Cultivarte surge a partir da assistência à saúde mental oferecida aos usuários dos serviços de saúde da UBS Jardim Industrial e UBS Vila São Paulo. Em 2012, iniciou-se a prática de Oficinas Terapêuticas como método clínico de acompanhamento próximo aos pacientes com sofrimento mental severo, sobretudo psicoses. Constituiu-se, assim, o Grupo Cultivarte, formado por trabalhadores e usuários das referidas UBSs. Há 07 anos, os encontros do Grupo acontecem semanalmente, reunindo 25 participantes em média. Estima-se que cerca de 100 usuários, entre pacientes e seus familiares, com frequência intermitente, integram o Grupo Cultivarte.
O Grupo Cultivarte é bastante heterogêneo, reunindo jovens, adultos, idosos, cada qual com sua trajetória clínica e história de vida. Dentre as pessoas que fundaram o Grupo, muitas são pacientes com histórico de isolamento, exclusão, e internações psiquiátricas.
Diante do contexto problemático das agendas saturadas na Unidade Básica de Saúde, com a sempre crescente demanda de atenção à saúde mental, e, frente ao compromisso de incluir no tratamento, a qualquer tempo, os casos de maior vulnerabilidade, em situações mais graves e instáveis de sofrimento psíquico (que historicamente sofrem com a segregação social), bem como diante do contexto que evidencia uma tendência ao tratamento restrito à medicalização, provoca-se constantemente, junto à equipe de trabalho, o pensamento crítico. Suscita-se questões diversas que remetem tanto à Reforma Sanitária, como também à Reforma Psiquiátrica, tais como: a superação do modelo médico-centrado; a cronicidade dos casos, em consequência, muitas vezes, de práticas esvaziadas de ações de promoção de saúde e produção de cuidados, que articulem com a produção de vida e inclusão social. A experiência construída pelo Grupo Cultivarte constitui-se como uma prática de atenção psicossocial que visa à mudança da assistência centrada na prescrição médica (ou mera "repetição de receita médica"), para uma assistência à saúde estruturada em promoção de ações de inclusão social de base territorial, orientada pelos princípios finalísticos da universalidade, da equidade e da integralidade da atenção, e construída pelo princípio estratégico da participação social na reinvenção do SUS, por meio da micropolítica do trabalho cotidiano.
O Grupo Cultivarte é constituído por usuários, familiares e trabalhadores vinculados às Unidades Básicas de Saúde Jardim Industrial e Vila São Paulo.
O Grupo Cultivarte é bastante heterogêneo, reunindo jovens, adultos, idosos, cada qual com sua trajetória clínica e história de vida. Dentre as pessoas que fundaram o Grupo, muitas são pacientes com histórico de isolamento, exclusão, e internações psiquiátricas. O Grupo Cultivarte acolhe aquelas pessoas que trazem histórico de descontinuidade de tratamento, bem como, aquele usuário dos serviços de saúde mental, que apesar de se manter em tratamento, sofre com a cronicidade, o apragmatismo, o negativismo, a falta de autonomia e a exclusão social.
Dentre as instituições parceiras, o fortalecimento do Grupo Cultivarte vem sendo apoiado pelo Centro de Convivência Horizonte Aberto de Contagem; o Programa Comunidade Viva/Vallourec, o Serparte/Vilma Alimentos; o CMAUF (Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar); a Rede Sesc Contagem; Centro Cultural de Contagem, entre outros.
Dentre as instituições parceiras, o fortalecimento do Grupo Cultivarte vem sendo apoiado pelo Centro de Convivência Horizonte Aberto de Contagem; o Programa Comunidade Viva/Vallourec, o Serparte/Vilma Alimentos; o CMAUF (Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar); Comitê de Instituições do Jardim Industrial e Vila São Paulo; a Rede Sesc Contagem; Centro Cultural de Contagem, entre outros.
O Grupo Cultivarte apoia-se numa proposta de atenção psicossocial cujo objetivo é agregar usuários, familiares e cuidadores da RAPS, todos em torno do fortalecimento da convivência e inclusão social, através de iniciativas que fomentem a produção de trabalho, cultura e cuidados;
- O espaço criado pelo Grupo Cultivarte funciona como estratégia de monitoramento dos casos em tratamento da saúde mental que necessitam de acompanhamento próximo;
- Acolher e reinserir no tratamento e na vida social aquelas pessoas que trazem histórico de descontinuidade de tratamento, e que ficam à deriva na RAPS, tornando-se “invisível” para os serviços de saúde em algum tempo ou em algum lugar;
- Acolher e redirecionar o projeto terapêutico daquele usuário dos serviços de saúde mental, que apesar de se manter em tratamento, sofre com a cronicidade, o apragmatismo, o negativismo, a falta de autonomia e a exclusão social;
- Agregar aqueles usuários, familiares e cuidadores que, confrontados com histórias de sofrimento e de exclusão social, se solidarizam com ações no sentido de reverter tal situação, formando uma mobilização pela inclusão social;
- Fortalecer o plano terapêutico de cada paciente na direção do laço social, da ascensão da singularidade do sujeito, do empoderamento, da autonomia e da cidadania.
- Favorecer o movimento itinerante do Grupo Cultivarte, em outros espaços da cidade, entre estes, para intervenções na ambiência de outras UBS, promovendo o trabalho artístico, o cultivo de canteiros medicinais/ ornamentais e a convivência social.
- Promover o Grupo Cultivarte como articulador social, valendo-se do teatro como instrumento para sensibilização quanto ao olhar social em torno da loucura e suas implicações na inclusão das diferenças.
- Promover o envolvimento de pessoas de outras comunidades, a fim de replicar a experiência do Grupo Cultivarte em outros territórios de Contagem, criando os Pontos TEIA – Território, Entrelaces, Inclusão e Autonomia, com proposta de atenção psicossocial similar.
Inicialmente, convidamos a Equipe Multiprofissional a considerar a atuação da UBS como dispositivo imprescindível para o acompanhamento próximo e longitudinal dos pacientes com histórico de sofrimento mental. Com o exercício da crítica, promoveu-se o estudo compartilhado de casos, com vistas a alcançar um maior discernimento quanto à definição das prioridades de atendimento, mobilizando a reorganização dos processos de trabalho.
Ao trazer à baila a discussão em torno da priorização de atendimento para aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade, retomamos o princípio da equidade, consagrado pela Reforma Sanitária, como o princípio orientador das práticas de inclusão, especialmente para pensarmos a assistência à saúde mental, que historicamente traz a marca da exclusão.
Em 2012, a Equipe de Saúde Mental da UBS Jardim Industrial e da UBS Vila São Paulo iniciou a prática de Oficinas Terapêuticas como método clínico de acompanhamento próximo aos pacientes com sofrimento mental severo, sobretudo psicoses. Constituiu-se, então, o Grupo Cultivarte, formado por trabalhadores e usuários das referidas UBSs.
O enquadre de cada encontro com o Grupo Cultivarte é orientado pela prática de oficina terapêutica, compreendida como um lugar social onde desenvolve-se a mediação possível para a reconstrução de um convívio, quando antes, restava o isolamento.
Durante cerca de 03 horas de encontro em oficina terapêutica, o Grupo Cultivarte vivencia uma atividade coletiva que envolve alguma produção (artística, jardinagem e ambiência, rodas de conversa e discussão de temáticas).
Os encontros do Grupo acontecem uma vez por semana, reunindo 25 participantes em média. Periodicamente, o Grupo Cultivarte realiza passeios pela cidade, ou mesmo, fora da cidade, ampliando seu território afetivo.
Enfim, com a criação de oficina terapêutica semanal, para favorecer maior inclusão dos pacientes com histórico de exclusão, surgiu o Grupo Cultivarte, que se tornou articulador de laço social.
A partir da inclusão no Cultivarte, esses pacientes mantêm tratamento contínuo nas UBS. O Grupo Cultivarte se tornou referência de acolhimento, convivência, vínculo e produção de sentidos para os referidos pacientes, cada qual com seu modo singular de existir e o desejo de colaborar para um projeto coletivo.
Através do Grupo Cultivarte, realiza-se o Projeto TEIA – Território, Entrelaces, Inclusão, Autonomia, que é composto por três Círculos de Ações: Ambientais, Socioculturais e Intersetoriais. No centro destes três círculos entrelaçados, como ponto de interseção para onde converge toda a orientação do trabalho, tem-se a Clínica do Laço Social.
No Círculo de Ações Sócio-Ambientais, como intervenção psicossocial, os pacientes se dedicam à construção de canteiros de plantas medicinais e ornamentais nas UBSs. Mantém-se parcerias intersetoriais, tais como: CMAUF (Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar), CONPARQ, entre outros.
O Círculo de Ações Artístico-Culturais contempla encontros com a cultura e com a criação artística, através das oficinas de artes plásticas, teatro, música e passeios. O Grupo Cultivarte vem se apresentando em Eventos da Luta Antimanicomial de Contagem, em parcerias com artistas e com Centro Cultural Casa Azul, seja com exposição de trabalhos de artes plásticas, seja com encenação teatral, que já contempla um importante repertório: em 2015: “Os lírios não nascem da lei: é preciso promover a mudança social”; em 2017: “Circo Psíquico”; em 2019: “Corações, Curações”.
O Círculo de Ações de Inclusão no Trabalho consolida parcerias institucionais e comunitárias, visando ações de inclusão social: Rede Cidadã; Projeto de Inclusão no Trabalho/ NIO – Núcleo de Igualdade de Oportunidade/SRTE-MG/TEM; Programa Comunidade Viva; Serparte; Comitê de Instituições do Jardim Industrial e Vila São Paulo; Centro de Convivência Horizonte Aberto/ Contagem.
Com a criação do Grupo Cultivarte, percebe-se os seguintes efeitos na clínica da saúde mental:
• Ampliação da assistência aos pacientes com sofrimento mental, cuja observação e cuidados próximos (inclusive medicamentosos) no Grupo Cultivarte, implicam em intervenções a tempo na evolução de crises, e manejo contínuo do projeto terapêutico;
• Redução de internações de integrantes do Grupo Cultivarte em hospitais psiquiátricos nos últimos 07 anos, com maior vinculação desses pacientes junto ao CAPS e à RAPS;
• Maior responsabilização com o tratamento, orientados pela prática de “cuidar de si e cuidar do outro, como prática de liberdade.” (Foucault), que se tornou o lema do Grupo Cultivarte, onde todos os integrantes se reconhecem como “cuidadores da saúde mental”: “Somos cuidadores da saúde mental. Pela saúde mental, cuido de um jardim, cuido do sentimento do grupo, cuido de mim”. Revela-se assim, um ganho considerável na superação de preconceitos e promoção da autonomia, ao produzir-se um deslocamento da posição estigmatizada de doente ou dependente de cuidados, para a posição de responsável por cuidar: de si, do outro e de um projeto coletivo;
• Fundação de um espaço que encoraja o protagonismo da comunidade, fortalecendo o plano terapêutico de cada paciente na direção do laço social, da ascensão da singularidade de cada sujeito, da autonomia e da cidadania.
• Articulação intersetorial para inclusão no trabalho. Destacamos a importante articulação intersetorial que o Grupo Cultivarte vem realizando, na direção da formação em cooperativismo e empreendedorismo social, com fins a criar a primeira associação de usuários e familiares de Contagem: “Associação de Usuários e Familiares dos Serviços de Saúde Mental pela Inclusão no Trabalho e Produção Solidária – CULTIVARTE.”
