Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Saúde Mental e Atenção Básica: Oficinas Terapêuticas como um dispositivo potente de cuidado

As Oficinas Terapêuticas são um espaço de grande potencial de Cuidado em Liberdade na Saúde Mental e fazem a diferença na atenção e na vida dos usuários.
Lajeado - RS
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Ariane Jacques Arenhart; Graciela Alvez Weimer; Magali Kuri Nardini
saudemental16crs@saude.rs.gov.br
Instituições vinculadas: 
16ª Coordenadoria Regional de Saúde - Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul Secretarias Municipais de Saúde dos municípios das regiões de Saúde 29 e 30 SES-RS
Resumo afetivo: 

As oficinas terapêuticas são um importante recurso de Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica dos municípios se caracterizam por serem espaços de criação, de ampliação de habilidades, de produção da autonomia dos usuários, de valorização do potencial criativo, de efetivação de projetos de vida e de trabalho, assim como ajudam os usuários a romperem com o isolamento e se sentirem como parte integrante no mundo social. Este dispositivo é um espaço de encontro de vida das pessoas, de convivência com as diferenças, de exercício de cidadania e de expressão de liberdade. Nos momentos de educação permanente com as equipes que atuam nas oficinas terapêuticas o objetivo é instrumentalizá-las e fortalecê-las para que o conhecimento compartilhado e as experiências exitosas em suas práticas se reflitam no fazer profissional das equipes e também no cuidado com o cuidador. É um trabalho realizado a muitas mãos, que cuida de usuários e trabalhadores, que oportuniza bons encontros, trocas de saberes e afetos, sendo potência de vida. Trabalhar com um novo olhar para cada pessoa envolvida é valorização da vida e promoção de saúde. Cuidar sim, excluir não.

Contexto: 

A Atenção Básica é a principal estratégia de cuidado em saúde e de mudança dentro do território, sendo um dispositivo importante para um novo modelo no cuidado em Saúde Mental. Com uma proposta de fortalecer o cuidado e atender aos usuários, no que se refere ao sofrimento psíquico e na promoção em saúde, o Rio Grande do Sul, através de sua secretaria de saúde, criou linhas de financiamento para as ações de Saúde Mental, em especial para os pequenos municípios. Na Política Estadual de Atenção Integral em Saúde Mental e de Atenção Básica, foi criado um Incentivo Financeiro Estadual, para implantação nos municípios de atividades educativas, como a modalidade Oficinas Terapêuticas . Nas duas regiões de saúde que este trabalho é realizado, que atende 37 municípios, onde destes 70% possuem menos de 10 mil habitantes. Nestas comunidades predomina a cultura de colonização alemã e italiana, com áreas de agricultura e pequenos produtores e composta, na sua maioria, por população idosa. Os espaços de atenção em saúde e de recursos terapêuticos ocorrem na Atenção Básica, onde aproximadamente 75% da população utiliza exclusivamente o Sistema Único de Saúde – SUS. As atividades educativas/ oficinas terapêuticas, com recursos como a arte, música, teatro, cultura, trabalhos manuais e de artesanato oportunizam a população o acesso a expressão, a autonomia, socialização e troca de saberes. Os trabalhadores vinculados a estes dispositivos, oficineiros, educadores sociais, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, agentes de saúde..., através da formação e educação permanente encontram a possibilidade de qualificação do seu saber e fazer profissional. E este trabalho se direciona em um fazer que é construído coletivamente, com a participação dos usuários, respeitando a realidade e os aspectos culturais e sociais das pessoas que atendem.

Motivações: 

Em nosso trabalho em uma regional de Saúde da SES/RS entendemos que não era suficiente informarmos que existia um financiamento para Atenção Básica implantar ações de cuidado em saúde mental. Precisávamos motivar os gestores de saúde, implementar estas ações, qualificar o trabalho, contribuir na formação dos trabalhadores e ouvirmos os usuários. Estarmos próximos destas ações em nossas cidades era um desafio para gestão de saúde do estado na nossa regional de Saúde. Então incentivamos as habilitações e passamos a realizar ações de apoio, monitoramento e avaliação sistemática do trabalho das Oficinas terapêuticas através de: fóruns de discussão, reuniões técnicas, visitas aos municípios para reuniões com trabalhadores e gestores, realização de rodas de conversa com os usuários que são atendidos com este trabalho. Organizamos encontros anuais entre trabalhadores – Encontros Regionais de Oficinas Terapêuticas – e reuniões a cada dois meses com os oficineiros/ educadores sociais.O que nos motiva é sabermos da dedicação de cada profissional para que este trabalho se realize, o apoio dos gestores de saúde e a alegria dos usuários ao relatarem o quanto estes espaços são importantes em suas vidas, fundamentais no seu cuidado. Diminuímos com isso o número de internações de saúde mental, as frequências em consultas e aproximamos pessoas do cuidado em saúde e de suas equipes da atenção básica. O que nos inquieta são as mudanças de gestão, a pouca compreensão de alguns gestores e trabalhadores sobre a promoção de saúde e a instabilidade do recurso financiamento estadual. Enfrentamos também a fragilidade nas contratações dos trabalhadores e a rotatividade destes pela precarização nas relações de trabalho. Vivemos a possibilidade de mudança de legislações da Saúde Mental e da Política de Álcool e outras Drogas e de retrocesso no olhar para o cuidado em liberdade. Precisamos manter nossas ações em nosso território, diminuir as internações, estarmos próximos das pessoas e com escutarmos suas demandas.

 

Parcerias: 

A SES/RS possui 19 Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), nós somos trabalhadores do Departamento de Ações em Saúde da 16ª CRS, com sede em Lajeado, de atua em 37 municípios, em duas regiões de Saúde ( 29 e 30). As duas regiões de saúde possuem em torno de 350 mil habitantes, onde o maior município possui cerca de 80 mil habitantes e o menor 2 mil habitantes. Todo trabalho é realizados com as secretarias municipais de saúde, através de suas equipes nas Unidades Básicas/ESFs. Os usuários avaliados pelas equipes com necessidade de atenção para prevenção e promoção em saúde, com vulnerabilidades sociais, com demandas de sofrimento psíquico e/ou uso de álcool e outras drogas são o público alvo deste trabalho. Os grupos são em sua maioria formados por mulheres, mas temos oficinas que atendem homens e crianças e adolescentes.

Objetivo: 

- Implementar, fortalecer e qualificar as Oficinas Terapêuticas em Saúde Mental na Atenção Básica por meio de ações articuladas pela 16ª Coordenadoria Regional de Saúde nas 2 regiões de saúde;

- Promover ações de Educação Permanente para os trabalhadores, qualificando o cuidado em Saúde Mental Fortalecer as ações para os Planos Terapêuticos Singulares articulados na Atenção Básica e com outros pontos de atenção na Rede de Atenção Psicossocial – RAPS.

Passo a passo: 

A 16ª CRS iniciou um trabalho de esclarecimento junto aos gestores de saúde para implantação das Oficinas Terapêuticas de Saúde Mental na Atenção Básica, destacando a importância deste dispositivo de cuidado em saúde mental, em especial para os pequenos municípios. Até o ano de 2014 foram habilitadas 28 oficinas terapêuticas em 25 municípios de um total de 37 pertencentes a 16ª CRS. Organizamos então espaços de troca e acompanhamento das ações para qualificar a rede. Para implementar e fortalecer estas ações passamos a acompanhar, com monitoramento e avaliação as equipes que coordenam estas ações, através de reuniões sistemáticas, visitas nos serviços para reuniões com gestores e profissionais e rodas de conversa para ouvirmos os próprios usuários que estão nas oficinas, escutando como se sentem neste espaço de cuidado. Iniciamos em 2014 os encontros com os trabalhadores de saúde que atuam diretamente nas Oficinas Terapêuticas, com o objetivo de troca de saberes e do aprofundamento do conhecimento sobre o seu fazer profissional. Estes ocorrem a cada dois meses, na sede da 16ª CRS, com a presença dos oficineiros/educadores sociais e a coordenação de Saúde Mental e Atenção Básica da Regional de Saúde. Nestes momentos as equipes apresentam seu trabalho, trocam técnicas usadas nos grupos, tiram dúvidas e relatam suas vivências com os grupos. Falamos sobre a reforma psiquiátrica, o cuidado em liberdade, o compromisso com os princípios do SUS e os direitos dos usuários. Em 2013 passamos a realizar os Encontros Regionais de Oficinas Terapêuticas, anualmente, de forma itinerante, nas cidades que possuem estes dispositivos, realizando assim as ações de educação permanente. Este ano realizamos o 7º encontro, um momento de troca de experiências, vivências de práticas em saúde, cuidado com o cuidador.Até este ano de 2019 temos ampliado o número para 56 oficinas terapêuticas que atendem cerca de 800 pessoas semanalmente nestes dispositivos nas diferentes cidades da região.

Efeitos e resultados: 

Construímos os dispositivos das oficinas terapêuticas nas regiões de saúde buscando sempre a inclusão social, considerando a Reforma Psiquiátrica, sendo um espaço de grande potencial de cuidado e diversidade. Os momentos de encontros de trabalhadores se tornaram um potente articulador regional do fazer em Saúde Mental, mudando os processos de cuidado em saúde mental na atenção básica. As potências destas ações passaram a fazer diferença na atenção aos usuários na saúde mental. Com este trabalho modificamos um cenário em que encontrávamos equipes da atenção básica se desresponsabilizando do cuidado as pessoas com sofrimento psíquico. A realidade que encontramos hoje são profissionais que compartilham o cuidado em rede se corresponsabilizando pelo cuidado em saúde mental.Esta ampliação que vivenciamos desde 2012, quando habilitamos as primeiras oficinas até o número que temos hoje demonstram que este trabalho é uma aposta positiva das gestões municipais e das equipes, que acreditam neste trabalho e respondem positivamente as ações propostas pela regional.