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- Campo de Prática
- Público Alvo
Certamente, a (in)visibilidade é um problema que assola essa população e impede que tenham acesso às políticas públicas, tornando-se assim provocador o cuidado psicossocial a estes que fazem uso problemático de substâncias psicoativas. Portanto, é preciso reconhecer esses sujeitos como sujeitos de direitos.
Inspirado nos pressupostos da Reforma Sanitária, da Reforma Psiquiátrica no Brasil e da Luta Antimanicomial, a integralidade do cuidado no Sistema Único de Saúde vem expandindo a rede de atenção psicossocial nos diversos níveis e espaços de cuidados.O Projeto Residência na Rua: Saúde, Cultura e Arte foi um Projeto da Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará composto por Residentes da Saúde Mental Coletiva, tutores, preceptores e parceiros da rede. A proposta é possibilitar atividades artístico-culturais entre outras atividades, de modo a promover saúde e fomentar a vinculação com a equipe de profissionais residentes.
O Projeto surge a partir da percepção da ausência de abordagem com a população em situação de rua do Centro de Fortaleza que possibilitasse a promoção da saúde das pessoas em uso de substâncias psicoativas através da arte e da cultura. A Praça do Ferreira é conhecida entre a população em situação de rua de Fortaleza, como "Mãe Ferreira" devido o grande número de doações que recebe diariamente. A partir das atividades proposta a equipe diversas vezes foi questionada que tipo de doação estávamos disponibilizando. Ao explicar que éramos profissionais da saúde surgia o questionamento se poderíamos fornecer remédios. Por isso, pensar no cuidado ampliado ainda causa estranhamento, principalmente quando abordávamos a temática sobre álcool e outras drogas e a possibilidade de um cuidado respeitando a autonomia, as particularidades, o tipo de substância e construindo estratégias de redução de danos com e para eles. Por outro lado, cuidar neste processo não significava uma perspectiva de higiene social, pois saúde não significa a luta contra a "doença" ou o "desvio" do uso de substâncias. A questão do cuidado na concepção da clínica ampliada, perpassa indiscutivelmente sendo do sujeito, com o sujeito e não para o sujeito, a favor da vida, com produção de cultura e arte como potência do encontro.
O Projeto surge a partir de uma parceria institucional entre a Residência Integrada em Saúde da ESP/CE com a Secretaria de Cultura - SECULT/CE, através do Cineteatro São Luiz, localizado na Praça do Ferreira. Além disso, no desenvolvimento do trabalho foram pactuadas outras parcerias com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) bem como a rede da Assistência Social, especialmente através do CENTROPOP e do Centro de Convivência e Pousada Social. Nosso público alvo neste Projeto, foi a população em situação de rua, de ambos os sexos, que realizavam uso de substâncias psicoativas.
- Descrever as práticas de cuidado ofertadas às pessoas em situação de rua que fazem uso de álcool e outras drogas no Centro de Fortaleza;
- Compreender como a estigmatização contribui para a manutenção dos estereótipos e preconceitos em relação à população em situação de rua;
- Descrever os caminhos, desafios e desfecho destas pessoas em uso de substâncias psicoativas, tendo em vista as estratégias de cuidado em saúde.
As ações em saúde mental executadas neste Projeto pela equipe interdisciplinar e multiprofissional, envolveram o planejamento de agenda, com ações de formação de vínculos, acolhimento, escuta qualificada, atendimentos individuais e em grupo, orientações gerais de saúde, matriciamento nos serviços de saúde e assistência, roda de conversa com a população, articulação intersetorial, encaminhamentos à rede e acompanhamento dos usuários aos equipamentos da rede de saúde e assistência. Além disso, durante a atuação do Projeto na Praça foram realizadas ações que prezavam pela vivência das expressões artístico-culturais (batuque, pintura com tinta, dança, musicoterapia, contação de história, oficinas de expressão corporal) como estado de fruição da arte e estratégia de Redução de Danos com fins de minimizar as consequências adversas a partir do ponto de vista de saúde e seus aspectos sociais da população de rua da praça e das pessoas que faziam o uso abusivo de substâncias psicoativas. Através da arte e da música, nossa intervenção principal foi a realização do chamado batuque que realizamos com a população em situação de rua na Praça do Ferreira. Disponibilizamos instrumentos musicais no centro da praça para que as pessoas pudesse se achegar livremente e fazer uso dos mesmos. Assim, formava-se uma grande roda de cantoria com músicas que a população escolhia.
Essas experiências nos permitiram diálogo com os sujeitos sobre suas percepções de saúde, saúde mental, redução de danos garantia de direitos, mercado de trabalho, entre outros. O tipo de postura assumida pelos indivíduos diante das ofertas de cuidado é extremamente desafiador. No curto espaço de tempo, ora se permitem ser cuidados, ora não concordam com esta possibilidade. Porém, é possível perceber que esta expressividade está relacionada ao reconhecimento social que estes sujeitos se percebem em suas trajetórias sociais, com histórias de vida atravessadas de dificuldades ao acesso às políticas públicas. A partir delas, é possível realizar um trabalho alinhado aos princípios do SUS, e das reformas sanitária e psiquiátrica. Ações em saúde são pensadas, discutidas e efetuadas com a participação dos sujeitos envolvidos, através da educação população em saúde. no âmbito SUS com a população em situação de rua requer orientar-se pelo diálogo, amorosidade, problematização, construção compartilhada de conhecimento, emancipação, e compromisso com a construção do projeto democrático e popular, fortalecendo assim o empoderamento dos sujeitos frente ao contexto social, econômico, político e cultural que permeia sua realidade.