Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Percursos peripatéticos: uma possibilidade pedagógica a partir das visitas domiciliares

Junto à equipe, agrega-se nova ótica ao atendimento em saúde. Trata-se de uma prática política com interessante possibilidade pedagógica para a formação não distanciada da realidade. 
Fortaleza - CE
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Maria Aline Mendes Costa, Magda Moura de Almeida Porto e Mylkleany Martins de Castro 
malinemendes@gmail.com 
Instituições vinculadas: 
Universidade Federal do Ceará, UAPS Anastácio Magalhães e Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) Anastácio Magalhães
Resumo afetivo: 

A principal diferença e, por conseguinte, o primeiro impacto é o percurso a pé. O que nos salta, inicialmente, são as contradições sociais do território. Surgem reflexões e afetos diferentes das que aparecem dentro da sala de aula tradicional: o novo, o diferente, são aspectos que puxam uma forma diferente de pensar, mais criativa. Demanda grande esforço e movimento subjetivo sair de um lugar comum da sala de aula e de sua realidade, para estar de fato inserido no território, fazer parte sem invadir. Ao longo do tempo, perceber aos poucos os efeitos, tanto na equipe quanto nas pessoas acompanhadas, trazem uma sensação indescritível, apesar de não nos isentar das frustrações e dificuldades próprias do trabalho, tais como reunir a equipe, lidar com agravantes como violência domésticas e consumo abusivo de drogas, etc.

Contexto: 

As visitas domiciliares eram ofertadas geralmente para idosos e/ou pacientes em vulnerabilidade social e, muitas vezes, lidávamos com problemas advindos da complexidade dos Determinantes Sociais, como pobreza, rompimentos familiares, desemprego, abandono escolar, alguns pacientes sequer tinham condições de pagar uma passagem de ônibus para ir até o posto para atendimento. Nesse ponto, nosso desafio era realizarmos escuta ativa de toda a problemática do paciente, comumente com problemas psíquicos, para enfrentamento dessas situações e fortalecimento, além de acionarmos diferentes profissionais da equipe de saúde, como Assistentes Sociais, Dentistas ou Fisioterapeutas, e redes sanitárias e ampliadas para auxiliar no tratamento desses pacientes dentro de suas necessidades e de nossos limites. 

Motivações: 

O primeiro contato se deu através de um estágio, pela Universidade, ao conhecer outra equipe de estudante que participavam de um grupo de extensão interdisciplinar com vários alunos da área de saúde, e que neste já haviam algumas visitas, mas não havia aluno da psicologia, junto ao desejo de continuar a prática. Agregou-se a psicologia no projeto de extensão para ampliar a atividade e permitir que ela acontecesse por mais tempo, para também garantir cuidado continuado para algumas pessoas e abranger outras. Essa atividade, se insere em um território de alta vulnerabilidade, com pacientes que de certa forma se veem impossibilitados de acessar fisicamente a unidade de saúde. Pode-se focalizar em reuniões e construção de projetos terapêuticos singulares.

Parcerias: 

A ações no território eram desenvolvidas por estudantes de diversos cursos da saúde da UFC, supervisionada por professores dos respectivos cursos, em parceria com os profissionais de saúde da Unidade de Atenção Primária Anastácio Magalhães. Os agentes comunitários da UAPS solicitavam as visitas para os pacientes com maior necessidade de atendimento, seja para consultas médicas ou psicológicas, e a equipe se encaminhava a pé, ou por vezes, com uma van ofertada pelo Hospital Universitário da UFC. O público-alvo geralmente eram idosos atendidos pela UAPs, em vista de sua dificuldade de locomoção.

Objetivo: 
  • Inserção no território;
  • Acompanhamento longitudinal de usuários da unidade básica de saúde;
  • Construção de redes, não só com os equipamentos, mas também com as conexões subjetivas das pessoas;
  • Construção de trabalho em equipe e cuidado integral.
Passo a passo: 

Agregou-se a formação em Psicologia de uma Universidade Federal às demandas de equipe de saúde da família para a prestação de cuidados domiciliares a 59 pacientes. Os casos de pacientes/cuidadores com demandas de suporte psicológico foram identificados através de busca espontânea ou por profissionais da equipe de saúde da família, principalmente os Agentes Comunitários de Saúde e por equipe multidisciplinar (fisioterapia, medicina, odontologia e psicologia) vinculada à universidade. As Visitas Domiciliares duravam em média de cinquenta minutos, ocorrendo às terças e quartas pela manhã. Os Projetos Terapêuticos Singulares foram discutidos em reunião de equipe, supervisão e através de meios de comunicação on-line. As estagiárias transitavam pelo Território a pé buscando conexão com pessoas e atividades locais. Quando necessário, havia o acompanhamento dos usuários a equipamentos da Rede de Atenção, desde a própria unidade de saúde, até CAPS, CRAS e CREAS, bem como outros lugares que compunham a rede pessoal do usuário, escola, casas de vizinhos, trabalho etc.

Efeitos e resultados: 

A medida que prosseguia o projeto, as pessoas ficavam sabendo e se interessavam pelo trabalho, ao mesmo tempo, as reuniões passaram a ser mais dinâmicas, baseadas em conhecimentos de cada profissional e do território. As pessoas inicialmente atendidas demonstraram melhoras consideráveis, saindo de quadros graves, obtendo alta - sem, no entanto, parar totalmente com a produção de saúde.