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Há um movimento constante de aproximação das pessoas em sofrimento psíquico das categorias louco/doido/maluco, ou de características que possam caracterizá-los como tal. Essas classificações trazem o estigma da violência, da instabilidade, do animal, que deve ser contido, excluído, separado de outras pessoas ditas “normais”. As pessoas que participaram do estudo tentaram afastar de si a postura do sujeito agressivo, do insano, daquele que é um perigo para o outro, a fim de que pudessem ser respeitados. Nosso trabalho, centrou-se em ouvir as falas desses sujeitos de modo que essas pessoas pudessem ser acolhidas em seus sofrimentos e pudessem ter autonomia para falarem de si e se constituírem autonomamente, sem a "tutela" dos profissionais de saúde.
Realizamos a pesquisa com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I), localizado na cidade de Itaporanga, Estado da Paraíba, Brasil. A população de Itaporanga (IBGE, 2010) apresenta 23.192 habitantes, distribuídos numa área territorial de 468 km², se constituindo como município de pequeno porte, todavia, se destacando das outras cidades do Vale do Piancó (alto sertão da Paraíba) pela efetivação de um polo industrial (têxtil).
Percebemos que uma das temáticas que mais circulava nos discursos das pessoas em sofrimento mental, que participaram desse estudo, foi sobre o processo de estigmatização que vivenciavam e do qual tentavam escapar, fazendo uso de várias estratégias. É importante destacar que as vozes desses sujeitos foram ouvidas e respeitadas, buscamos testemunhar como a problemática do estigma da loucura e seus efeitos ainda assolam as vidas dessas pessoas.
- Objetivamos analisar os discursos de pessoas em sofrimento psíquico sobre a loucura e seu processo de estigmatização.
Nosso trabalho foi desenvolvido em dois momentos: no primeiro, realizamos uma observação participante; no segundo, montamos rodas de conversa. Inicialmente, circulamos pelas oficinas terapêuticas, pelos grupos de discussão, na farmácia, durante a entrega de medicamentos a usuários e a seus familiares, na sala de espera, na sala de atendimento individual, durante o atendimento médico, realizando conversas com as informações e construindo laços, ao passo em que realizávamos algumas anotações nos diários de campo. No segundo momento, articulamos as rodas de conversa, com o auxílio de uma profissional de Psicopedagogia que trabalhava no CAPS I. Participaram das rodas sete usuários do serviço, que estavam a mais tempo na instituição, em regime de tratamento intensivo, e que aceitaram o convite para participar das atividades.
Podemos considerar que há um movimento constante de aproximação das pessoas que participaram dessa pesquisa das categorias louco/doido/maluco, ou de características que, temporariamente, possam caracterizá-los como tal. Essas classificações trazem o estigma da violência, da instabilidade, do animal, que deve ser contido, excluído, separado de outras pessoas ditas “normais”. Nesse instante, elas tentam afastar de si a postura do sujeito agressivo, do insano, daquele que é um perigo para o outro, a fim de que possam ter seus Direitos Humanos respeitados.
E quem seria esse louco? Para elas, os sujeitos que ficam internados em hospitais psiquiátricos, manicômios, clínicas, hospícios caracterizam essas pessoas “doidas”. Os sujeitos, que compuseram este estudo, reiteram o fato de que as pessoas “doidas” são piores do que eles, para serem tomados como melhores e, portanto, para serem aceitos socialmente e terem seus direitos garantidos. Classificar o outro como ""doido"" é uma estratégia discursiva utilizada para se distanciar daquilo que irrita, que agride, que exclui, mas também daquilo que viola direitos e liberdades básicas humanas e produz vida.
Assim sendo, é necessário continuarmos refletindo e dialogando com os usuários dos serviços, profissionais, gestores e a comunidade de modo em geral, para desconstruirmos esse “sujeito da loucura” como sendo perigoso, monstruoso, instável, que necessita estar contido, que pode ter seus direitos violados.