Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

O processo de estigmatização da loucura narrado por usuários de um centro de atenção psicossocial do Alto Sertão Paraibano

Objetivamos problematizar os discursos de pessoas em sofrimento psíquico sobre a loucura e seu processo de estigmatização. 
Itaporanga - PB
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo; Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro
alessandra_aniceto@yahoo.com.br 
Instituições vinculadas: 
Realizamos uma pesquisa com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPSI) Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, Rio de Janeiro; Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife. 
Resumo afetivo: 

Há um movimento constante de aproximação das pessoas em sofrimento psíquico das categorias louco/doido/maluco, ou de características que possam caracterizá-los como tal. Essas classificações trazem o estigma da violência, da instabilidade, do animal, que deve ser contido, excluído, separado de outras pessoas ditas “normais”. As pessoas que participaram do estudo tentaram afastar de si a postura do sujeito agressivo, do insano, daquele que é um perigo para o outro, a fim de que pudessem ser respeitados. Nosso trabalho, centrou-se em ouvir as falas desses sujeitos de modo que essas pessoas pudessem ser acolhidas em seus sofrimentos e pudessem ter autonomia para falarem de si e se constituírem autonomamente, sem a "tutela" dos profissionais de saúde.

Contexto: 

Realizamos a pesquisa com usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I), localizado na cidade de Itaporanga, Estado da Paraíba, Brasil. A população de Itaporanga (IBGE, 2010) apresenta 23.192 habitantes, distribuídos numa área territorial de 468 km², se constituindo como município de pequeno porte, todavia, se destacando das outras cidades do Vale do Piancó (alto sertão da Paraíba) pela efetivação de um polo industrial (têxtil). 

Motivações: 

Percebemos que uma das temáticas que mais circulava nos discursos das pessoas em sofrimento mental, que participaram desse estudo, foi sobre o processo de estigmatização que vivenciavam e do qual tentavam escapar, fazendo uso de várias estratégias. É importante destacar que as vozes desses sujeitos foram ouvidas e respeitadas, buscamos testemunhar como a problemática do estigma da loucura e seus efeitos ainda assolam as vidas dessas pessoas.

Objetivo: 

- Objetivamos analisar os discursos de pessoas em sofrimento psíquico sobre a loucura e seu processo de estigmatização.

Passo a passo: 

Nosso trabalho foi desenvolvido em dois momentos: no primeiro, realizamos uma observação participante; no segundo, montamos rodas de conversa. Inicialmente, circulamos pelas oficinas terapêuticas, pelos grupos de discussão, na farmácia, durante a entrega de medicamentos a usuários e a seus familiares, na sala de espera, na sala de atendimento individual, durante o atendimento médico, realizando conversas com as informações e construindo laços, ao passo em que realizávamos algumas anotações nos diários de campo. No segundo momento, articulamos as rodas de conversa, com o auxílio de uma profissional de Psicopedagogia que trabalhava no CAPS I. Participaram das rodas sete usuários do serviço, que estavam a mais tempo na instituição, em regime de tratamento intensivo, e que aceitaram o convite para participar das atividades.

Efeitos e resultados: 

Podemos considerar que há um movimento constante de aproximação das pessoas que participaram dessa pesquisa das categorias louco/doido/maluco, ou de características que, temporariamente, possam caracterizá-los como tal. Essas classificações trazem o estigma da violência, da instabilidade, do animal, que deve ser contido, excluído, separado de outras pessoas ditas “normais”. Nesse instante, elas tentam afastar de si a postura do sujeito agressivo, do insano, daquele que é um perigo para o outro, a fim de que possam ter seus Direitos Humanos respeitados. 

E quem seria esse louco? Para elas, os sujeitos que ficam internados em hospitais psiquiátricos, manicômios, clínicas, hospícios caracterizam essas pessoas “doidas”. Os sujeitos, que compuseram este estudo, reiteram o fato de que as pessoas “doidas” são piores do que eles, para serem tomados como melhores e, portanto, para serem aceitos socialmente e terem seus direitos garantidos. Classificar o outro como ""doido"" é uma estratégia discursiva utilizada para se distanciar daquilo que irrita, que agride, que exclui, mas também daquilo que viola direitos e liberdades básicas humanas e produz vida.  

Assim sendo, é necessário continuarmos refletindo e dialogando com os usuários dos serviços, profissionais, gestores e a comunidade de modo em geral, para desconstruirmos esse “sujeito da loucura” como sendo perigoso, monstruoso, instável, que necessita estar contido, que pode ter seus direitos violados.