Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Jogos Goianos da Saúde Mental

Contra os projetos proibicionistas e manicomiais, é preciso animar a luta antimanicomial!
Goiânia - GO
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Adelvair Helena dos Santos e Silva (autora); Francisco Luiz de Marchi (autor); Gardênia Furtado Lemos (autora); Mônica Mendes Maranhão Izacc (autora); Lívia de Sousa (autora); Heitor Martins Pasquim (autor)
Heitor Pasquim: <hpasquim@gmail.com>; Centro de Convivência Cuca Fresca <cccucafrescasmsgoiania@gmail.com>
Instituições vinculadas: 
Centros de Convivência e Cultura “Cuca Fresca”; Faculdade de Educação Física e Dança, da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Resumo afetivo: 

Os Jogos Goianos da Saúde Mental é um evento esportivo e cultural autogestionado. A exclusão vivida por usuários e familiares ligados aos serviços de saúde mental de Goiás ainda é um desafio que exige superações coletivas no cotidiano. Para lidarmos com esses obstáculos são necessários parceiros que acreditem na possibilidade de responder às restrições e constrangimentos sociais, integrando uma rede articulada e efetiva de cuidado. Nesse sentido, os verdadeiros autores dos Jogos são os usuários da rede de atenção psicossocial e os parceiros que acreditam que outro mundo é possível e necessário.

Contexto: 

O contexto da saúde mental de Goiás é marcado por uma profunda desigualdade social e econômica que polariza o processo saúde-doença-cuidado, com permanente ameaça de redução de investimentos governamentais nos dispositivos já existentes. A mudança da capital do estado de Goiás para Goiânia é um fato histórico importante para compreender a história da loucura na região. Essa mudança trazia consigo um ideal de modernidade e uma narrativa higienista como estratégia para o controle e a gestão da vida coletiva. A loucura, antes da construção de Goiânia, já era marginalizada, mas apresentava nuances próprias. Existia uma alusão ao bobo, ao idiota, ao demente, ao louco e ao alienado, que faziam parte das experiências da cidade. A loucura era vista ao mesmo tempo como problema e como necessária. Isto é, enquanto estavam na rua provocando a desordem e incomodando as outras pessoas, ela era considerada problema. Mas era necessária quando, entre outras coisas, as pessoas loucas faziam trabalhos diversos para famílias da cidade. Nesta época, os médicos goianos Brasil Ramos Caiado e Pedro Ludovico Teixeira articularam intervenções sanitárias, cujo objetivo era produzir mudanças sociais e paralelamente consolidar uma força reguladora dos comportamentos dos ditos “bobos”. A medicina foi (e ainda é) uma estratégia importante para o controle e a gestão da vida das coletividades.

Motivações: 

Os Jogos Goianos da Saúde Mental respondem necessidades sociais de saúde como a reunião de diferentes estratégias de ressocialização; estimulo ao protagonismo dos usuários da saúde mental; facilitação da troca de experiências de cuidado; oportuniza a formação integrada de graduandos da área da saúde por meio do contato com a Rede de Saúde Mental, fortalecendo a integração ensino-serviço-comunidade; e fortalece a luta antimanicomial goiana.

Parcerias: 

A criação dos Jogos Goianos da Saúde Mental, em 2018, se insere no contexto amplo da reforma psiquiátrica, da luta antimanicomial e superação da exclusão social da loucura. Nesta direção, a Rede de Saúde Mental tem desenvolvido de forma consistente ações humanizadas, que compõem com estratégias intersetoriais. Atualmente, os Jogos contam com importantes parceiros, como a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Goiânia e a UFG.

Objetivo: 

O objetivo é promover espaços de integração, de ressocialização e fortalecimento da luta antimanicomial. Assim como dar visibilidade a grupos em situação de vulnerabilidade, atendidos pela política de equidade da Secretaria Municipal de Saúde de Goiás, tais como indígenas, negros, população de rua, LGBT, entre outros.

Passo a passo: 

Os Jogos Goianos da Saúde Mental são autogestionados. As reuniões são abertas a participação e voz de todos. Os Jogos homenageiam “Deusdet do Carmo Martins”. Ela foi fundadora e ativista do Fórum Goiano de Saúde Mental. Militante da Luta Antimanicomial, sua trajetória de vida reflete a defesa dos direitos humanos e a luta pelos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental em Goiás e no Brasil. O evento tem três eixos de participação: esporte; arte/ cultura; e economia solidária. Os usuários da rede de saúde mental podem participar de todas as atividades e modalidades dos Jogos, assim como promover oficinas e apitar jogos. Todos os usuários interessados podem jogar e não apenas os mais habilidosos. A Feira de Economia Solidária dos Jogos segue os princípios: autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário. Em 2019, junto com a segunda edição dos Jogos realizamos o I Festival de Arte e Inclusão com o objetivo de promover a visibilidade de expressões artísticas marginalizadas e fortalecer por meio do encontro e da arte populações em situação de vulnerabilidade atendidas pela política de equidade da SMS-GO.

Efeitos e resultados: 

A primeira edição dos Jogos em 2018 reuniu mais ou menos 500 pessoas. A segunda edição 1000 usuários, familiares e trabalhadores da saúde mental. Temos a participação de usuários da saúde mental em todas as reuniões de planejamento. Contamos também com a participação da maioria dos CAPS de Goiânia e região. Realizamos pelo menos seis reuniões abertas antes de cada evento.

Conte um pouco mais: 

“Momento mágico para todos os envolvidos”
- Maria Julia Diniz Ribeiro, profissional de educação física

 

Saiba mais do projeto em: