Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Jogo ELOS: construindo coletivos com crianças, adultos e trabalhadores da saúde e da educação.

ELOS é um jogo que alegra o aprendizado dos educandos, as relações em família e o trabalho de professores, promovendo relações e redes protetivas no cotidiano da escola.
Taboão da Serra - SP
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Eduardo Caron, Adriana Marcondes Machado
mifunecaron@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Escolas de ensino fundamental I e Unidades Básicas de Saúde, Taboão da Serra - SP Instituto de Psicologia USP Prefeitura de Taboão da Serra
Resumo afetivo: 

O Programa ELOS consiste em um jogo de equipe de educandos de 6 a 9 anos de idade, com acompanhamento em parceria entre trabalhadores da saúde e da educação e atividades envolvendo familiares e crianças. O jogo contagia crianças e professores, impactando as relações na escola e na família, promovendo aprendizado, autonomia, cuidado e cultura de paz, criando uma parceria baseada na experiência conjunta entre trabalhadores de saúde e educação no território.

Contexto: 

O Jogo Elos é uma prática valiosa em diversos contextos sociais e escolares. Destacamos em especial duas grandes preocupações: uma é o valor da prática do ELOS para a promoção de relações solidárias e de cooperação, o que tem grande impacto em ambientes em que se reproduzem relações de violência (fala agressiva, assédio, maus tratos, desrespeito, etc) nas relações na escola, na família e principalmente em territórios com alta vulnerabilidade social; outra é a facilitação do jogo Elos para a inclusão de educandos com necessidades especiais nos coletivos na escola, no aprendizado e no brincar.

Motivações: 

Os principais motivadores foram: primeiro a necessidade de promover habilidades sociais entre as crianças para fortalece-las diante de graves problemas em territórios com alta vulnerabilidade a situações de violência.
Outro motivador foi a realização de uma nova forma de parceria entre trabalhadores das Unidades Básicas de Saúde e escolas nos territórios.
 

Parcerias: 

A prática do ELOS depende de uma parceria entre a gestão da Educação e da Saúde na medida em que os trabalhadores das escolas e UBS necessitam ser liberados para compartilhar processos formativos e de acompanhamento do programa ao longo do ano letivo. A gestão do programa ELOS é compartilhada e o acompanhamento do jogo, das equipes, de cada aluno em cada sala é também feito em parceria. Trabalhadores da saúde passam a frequentar a escola periodicamente. Além dos gestores e trabalhadores das escolas e das UBS, o público envolve os educandos e familiares que participam do jogo e de encontros do ELOS na escola.

Objetivo: 
  • Específicos: Realizar processos formativos de trabalhadores da saúde e da educação que se tornam parceiros do planejamento e da implementação das atividades do programa. Realizar as partidas do jogo Elos com os educandos semanalmente. Realizar atividades com familiares e crianças periodicamente.
  • Gerais: construir coletivos operativos e democráticos, promover relações cooperativas e coordenadas entre educandos; entre educandos e professores; entre professores; entre trabalhadores da escola e da UBS; promover cultura de paz no cotidiano da escola e nas relações familiares.
Passo a passo: 

O Jogo Elos foi elaborado pela Coordenação de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, implementado em 15 municípios em cinco Estados brasileiros entre 2013 e 2017, período em que realizamos a implementação do programa em Taboão da Serra – SP por iniciativa da Coordenação de Educação Permanente em Saúde, com acompanhamento do Instituto de Psicologia da USP e realizamos a pesquisa “Avaliação qualitativa da implementação do Jogo ELOS em escolas municipais de ensino fundamental”, cujos resultados foram publicados no 3o. Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental e no 6o. Congresso Internacional da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas. A implementação requer uma articulação entre as Secretarias Municipais de Saúde e de Educação para a disponibilização dos trabalhadores interessados em participar do programa, pactuação dos cronogramas de formação, produção de materiais e adaptação da gestão escolar às atividades do programa durante o ano. O planejamento e avaliação do programa é feito em cogestão pelo coletivo de trabalhadores em encontros mensais.
1) Os trabalhadores participantes do ELOS – professores e coordenadores das escolas e profissionais das UBS – realizam uma formação conjunta de 16 horas para implementar o programa. Esses trabalhadores constituem um coletivo gestor que planeja, acompanha e avalia o andamento do programa durante o ano.
2) Cada professor tem um parceiro da saúde com quem acompanha e avalia as equipes de educandos e as partidas do ELOS em cada turma. O jogo tem duração de 10 a 30 minutos. Objetivo de cada partida é realizar uma tarefa curricular regular. As três regras principais são: Não chamar o professor ou solicitar a sua intercessão. Resolver em equipe todas as necessidades relacionais ou para a execução da tarefa. Ser gentil com os colegas da equipe. Além destas regras, o Jogo tem três acordos que são pactuados no início de cada partida: quais as instruções da tarefa, qual o nível de voz empregado para se comunicar, qual a mobilidade necessária para execução da tarefa.
3) Além de acompanharem o jogo, os parceiros planejam e realizam eventos conjuntos com familiares e crianças. Realizamos três eventos por semestre em cada escola. Cada encontro é estruturado em três rodas de diálogo livre com recursos lúdicos e dinâmicos facilitadores das interações: um grupo somente de adultos; um grupo somente de crianças; e uma roda com todos juntos crianças e adultos. Cada encontro trata de um tema que facilita a percepção de si e do outro; o diálogo sobre sentimentos; e brincadeiras cooperativas.
 

Efeitos e resultados: 

A prática do programa Elos beneficia crianças e adultos:
Desenvolve habilidades de vida, cognitivas e de aprendizagem: autopercepção, autocontrole, concentração, autoconfiança, autonomia, tolerância, empatia, assertividade e cooperação. Os professores são impactados pelas novas relações engendradas nas práticas e mudam de visão e modos de agir. As crianças sentem que aprendem mais. As relações cooperativas entre educandos potencializam o aprendizado.
Fortalece vínculos sociais e interações sociais protetoras, reduz de situações de confrontação, dispersão e retraimento.
Aumenta a potência e a autonomia de educandos e adultos - professores, trabalhadores da saúde e familiares - na realização do programa. Aumenta a capacidade normativa dos sujeitos participantes.
A participação de educandos com necessidades especiais – seja qual for o tipo de necessidade - nas equipes favorece a inclusão nos processos de aprendizagem e o desenvolvimento afetivo e cognitivo destes educandos.
As relações de parceria entre trabalhadores da saúde e da educação, e entre professores, quebra um sentimento de isolamento muito comum no cotidiano do educador e muda sua relação com a turma e seus colegas.