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Constituem-se como diretrizes principais desta prática o respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas, o combate a estigmas e preconceitos, atenção humanizada e centrada nas necessidades dos indivíduos, com ênfase de base territorial e comunitária, estabelecendo ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado.
O maior desafio observado está relacionado a fazer com que cada usuário seja o protagonista da sua própria história e pertencerem a cada espaço social ocupado por outras categorias de pessoas e/ou classes sociais, é demonstrar que os pacientes do CAPS AD possuem os mesmos direitos civis que qualquer outra pessoa. As dificuldades encontradas são várias, mas o que nos mais chamou atenção foi o receio dos pacientes em se apropriarem dos espaços públicos e ressignificarem a utilização desses locais.
A maior gratificação se dá através dos relatos de experiências dos pacientes e familiares em destacarem o quanto se sentem “gente”, de reviverem a alegria e a experiência de vida que foi deixada para trás devido ao uso de drogas, de sentirem a necessidade em repetir as experiências com suas esposas, maridos, filhos e pais.
O processo histórico da psiquiatria no Brasil é marcado pela segregação e exclusão, a reforma psiquiátrica surge como possibilidade de resgate da cidadania e dignidade dos indivíduos com sofrimento mental. Esses sujeitos percebem-se impossibilitados para exercerem seus direitos de cidadania, sofrem com a discriminação censurada pela Lei 10.2016/2001.
A organização urbanística da cidade de Ponta Grossa, contribuiu para o surgimento de periferias com a construção de favelas, e áreas subdesenvolvidas de vale, com uma população sujeita e condicionada à enorme vulnerabilidade social em todos os seus aspectos.
O uso de substâncias ilícitas está presente nas diversas classes sociais, assim como os prejuízos psicossociais causados, que decorrem do consumo abusivo de drogas. Todavia, a condição de pobreza encaixados nessa situação nos faz refletir sobre distintas abordagens e a eventual não identificação de tais sujeitos como pessoas. Muitas vezes, são comparados a “zumbis”, ou outras classificações desumanas.
Percebe-se a necessidade de contínua batalha pela salvaguarda do direito à singularidade e subjetividade do dependente químico, bem como a construção de significativo esforço de superação, concepções sociais que ainda suportam o preconceito, o estigma e a negação. A compreensão sobre o sofrimento e o tratamento, destaca a necessidade de uma estruturação de ações que amenizem o sofrimento e aumentem a autonomia e o protagonismo dos pacientes, mediante ações intersetoriais as quais constituem uma premissa relevante da reforma psiquiátrica.
Diante desta concepção, é imprescindível a atenção para não se permitir que eventuais avaliações morais, referidas aos frequentadores do CAPS ad ameacem a afirmação de sua igualdade. Esses possíveis julgamentos sob o ponto de vista cultural, não podem refletir na garantia de seus direitos e na afirmação da sua dignidade, uma vez que a sua condição humana é irrevogável.
A prática elucidada aborda a exclusão advinda do preconceito social. É possível observar também um preconceito ‘pessoal’ dos próprios usuários, dificultando dessa forma sua reinserção na sociedade, tornando cada vez mais distante a relação com a mesma.
É importante ter a clareza de como atuar e influenciar as mudanças do entorno. Esse encargo corrobora com os princípios de direitos humanos que fundamentam o conceito de igualdade, independentemente da posição cultural, social ou ainda, das manifestações de condutas apresentadas pelo indivíduo dentro do contexto social do qual está inserido.
Destarte, preconizou-se a humanização como estratégia terapêutica de interferência no processo de produção de saúde, enfatizando que sujeitos sociais quando instigados a se mobilizarem são capazes de modificar realidade, transformando-se a si próprio neste mesmo processo.
Trata-se, acima de tudo, em investir na promoção de renovações entre os sujeitos que integram o sistema de saúde de que desfrutam, acolhendo os atores principais do CAPS AD de Ponta Grossa e fomentando o seu protagonismo.
O CAPS como serviço de atenção psicossocial, deve sair do entorno dos seus espaços físicos, e recorrer à sociedade vínculos que complementem e ampliem os recursos existentes. A população alvo desta prática são os pacientes do CAPS AD e seus familiares, a participação não está vinculada a obrigatoriedade em frequentar grupos específicos no serviço, vincula-se apenas ao desejo de cada um em experimentar ou reviver atividades que foram deixadas de lado em decorrência da dependência química.
Evidencia-se a intersetorialidade, com o envolvimento de outros dispositivos da rede como: assistência social, secretaria de turismo, setor de transporte, a Universidade Estadual de Ponta Grossa, secretaria de saúde, permitindo a execução de cada atividade proposta, os quais disponibilizam seus recursos humanos ou físicos.
- Demonstrar experiências práticas de vivências sociais, baseadas na participação e reinserção do dependente químico no território do qual faz parte;
- Fortalecer o empoderamento de seus direitos civis e o respeito à sua dignidade humana;
- Fortalecer laços familiares;
- Criar estratégias de organização e planejamento financeiro;
- Possibilitar experiências sociais das quais não costuma exercitar e reduzir danos;
- Fomentar a intersetorialidade no Município;
- Ressignificar os espaços sociais do território onde cada paciente encontra-se inserido;
- Promover atenção humanizada e centrada nas necessidades dos indivíduos, com ênfase na base territorial e comunitária, estabelecendo ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado;
- Possibilitar a ampliação do acesso as ações de prevenção, redução de danos sociais e à saúde;
- Produzir transformações nos valores culturais e sociais.
O cenário da prática de trabalho desenvolvida foi o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas, localizado no município de Ponta Grossa - PR. O tratamento dispensado por este serviço baseia-se nas diretrizes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), bem como nos princípios norteadores do Sistema único de Saúde e dos direitos fundamentais, é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar composta por terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, educadores físicos, auxiliares administrativos, auxiliar de serviços gerais, médicos e guardas municipais.
A proposta surgiu a partir do reflexo das demandas elucidadas pelos próprios usuários do serviço, durante as passagens pelos grupos terapêuticos, sobre as dificuldades em lidar com fatores econômicos e do preconceito sofrido na sociedade. Diante destas manifestações, fez-se emergir na reunião de equipe, a elaboração de um plano de ação composto por atividades fora dos muros do CAPS AD, onde se estabeleceu a exploração de espaços públicos e privados dentro da cidade de Ponta Grossa e cidades vizinhas, shopping, parques municipais e estaduais, passeios turísticos (Parque Estadual de Vila Velha, Parque histórico de Carambeí, parques aquáticos, cachoeira, cinema e piquenique). O deslocamento é realizado com os ônibus de linha municipal e intermunicipal, onde cada participante deverá arcar com as suas próprias despesas, incluindo a alimentação, o grupo é composto por pacientes e seus familiares.
Esta prática de intervenção favorece outras possibilidades de aproximações e parcerias com os dispositivos da rede, como o acesso e participação dos usuários para promoção de eventos comemorativos, junto às unidades básicas de saúde no território e a Universidade Estadual de Ponta Grossa. Evidencia-se a intersetorialidade, com o envolvimento de outras áreas como: assistência social, secretaria de turismo, setor de transporte e Universidade Estadual de Ponta Grossa, secretaria de saúde, permitindo a ampliação da execução das atividades propostas.
Nota-se que a reabilitação dos dependentes químicos transcende as limitações de estruturas físicas, com projetos de reabilitação psicossocial tendo como setting o próprio território do sujeito, que vai de encontro com o resgate da história das pessoas.
Pode-se analisar como resultado principal uma efetiva adesão à proposta sugerida tanto dos pacientes quanto de seus familiares, mudanças de hábitos, as quais incluem planos e projetos de vida vislumbrando a inserção dessas práticas no cotidiano das famílias, fortalecimento de vínculos familiares e sociais, um dos relatos apresentados foi: “muito obrigado por me fazer se sentir como gente de novo, vou trazer o meu filho nesse lugar.