Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Impactos da prática comunitária integrativa na atenção básica de saúde

"Prevenir é, sobretudo, estimular o grupo a usar sua criatividade e construir seu presente e seu futuro a partir de seus próprios recursos. ” Adalberto Barreto, 2000.
São Paulo - SP
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Joyce Araujo de Barros; Vera Lucia da Silva dos Santos; Juliana Farias Britto Estrela.
joy.araujobarros@gmail.com 
Instituições vinculadas: 
Unidade Básica de Saúde Paulo VI, Localizada do Bairro do Butantã. Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, Centro Educacional Unificado Uirapuru.
Resumo afetivo: 

É muito gratificante contribuir com a construção das redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilizar os recursos e as competências dos indivíduos, das famílias e das comunidades. Enquanto muitos modelos centram suas atenções na patologia, nas relações individuais, privadas, a Terapia Comunitária Integrativa se propõe cuidar da saúde comunitária em muitos espaços, principalmente os espaços públicos. Propõe-se a valorizar a prevenção, indo além do unitário para atingir o comunitário.

Contexto: 

Compreendemos que o exercício da cidadania pode ser relacionado ao direito de desenvolvimento, direito à paz, bem como todos aqueles relativos aos interesses difusos, como o direito ao meio ambiente, às mulheres, crianças, jovens, idosos, das minorias étnicas. Embora a concepção de cidadania encontra-se definida no ordenamento jurídico, também se reconhece um elemento ético (MARTIN, 2005), que terá a sua extensão vinculada e dependente do conceito que se dará a própria cidadania: uns a entendem nos termos da noção liberal de direitos cívicos, enquanto outros possuem uma compreensão mais comunitária integrativa, que implica na responsabilidade de promover o bem comum por meio da participação ativa na vida da comunidade. A ideia da comunicação inclusiva através das rodas comunitárias, nos coloca de forma aproximada para o sujeito na condição social, não só na ideia de recursos materiais, bem como ser social inserido, desenvolvido, no aspecto cognitivo, neural, inclusive com condições de acessar informações que abram janelas de oportunidades para a compreensão do seu diagnóstico (se houver um) ou por vezes sua real situação e o que poderá fazer em prol de uma qualidade de vida associada ao seu projeto de felicidade, concebendo a atenção à saúde como um projeto que iguala saúde com condições de vida. É necessário que esta inclusão, assim como o processo de produção de subjetividade a ela associado sejam orientados por princípios e diretrizes do SUS. 

Motivações: 

O cotidiano dos serviços de saúde, em suas relações com os modos de fazer a atenção e a saúde, é matéria constituinte e, portanto, primordial na construção de processos de que busquem enfrentar os desafios da concretização do SUS e de seus princípios, alterando as práticas de saúde e dos sujeitos nelas implicados. Os indicadores elevados de procura a terapia psicológica e usuários (da unidade básica de saúde Paulo VI) que fazem uso de psicotrópicos, suscitou o desejo de construir um espaço para que as pessoas e famílias pudessem ter acesso à saúde saindo da dependência para a autonomia e a corresponsabilidade do cuidado. 

Objetivo: 
  • Atender as necessidades dos indivíduos, abrangendo a família e o entorno social como sujeito atuante no processo de recuperação do sofrimento mental.
  • Viabilizar espaço para a fala e a construção das redes de apoio. 
  • Desvelar o sofrimento que, até então, estava introjetado de forma a perceber, entrar em contato com a dor.
  • Favorecer o enfrentamento dos problemas subjetivos, sociais, que afetam diretamente a saúde mental dos indivíduos.
Passo a passo: 

Os usuários da Unidade Básica de Saúde, começaram a ser acolhidos nas rodas de terapia comunitária no início do mês de abril, após serem identificados os sofrimentos relacionados a saúde mental, nos atendimentos junto às equipes de Estratégia de Saúde da Família e/ou por profissionais da Assistência Médico Ambulatorial. A profissional fonoaudióloga coordena e facilita a interação dos participantes nas rodas, apoiada por outros membros da equipe NASF, nutricionista e a assistente social. Os encontros ocorrem as quintas-feiras, das 10h00min às 11h00min, inicialmente aconteciam no salão de uma igreja adventista disponibilizado pela comunidade, atualmente em um espaço mais amplo dentro do Centro Educacional Unificado Uirapuru, cedido pela Educação, e aborda temas variados. 

Efeitos e resultados: 

Até fevereiro de 2018 participaram das 43 rodas 124 pessoas, os quais apresentaram o seguinte perfil: 86% dos participantes do sexo feminino, 14% do sexo masculino, a faixa etária de 81% adultos, considerando-se de 24 a 59 anos e 19% de idosos. Foi possível notar mudanças comportamentais significativas na autoestima e autonomia dos membros do grupo, assim como, a redução das queixas psicossomáticas, ideações suicidas, crises de pânico e fobias, impactando em decrescimento das intervenções medicamentosas.

Atenção Básica de Saúde se orienta no modelo assistencial, com ênfase no cuidado longitudinal, em seu espaço físico e social, o que possibilita uma equipe que compreenda a Saúde de forma integral e humanizada do processo “cura-doença”, para além das práticas curativas, organicistas. Assim, cabe aos profissionais engajados, ações interdisciplinares, vinculando os saberes das ciências sociais às de saúde, entre outras práticas.

Sabemos que a Terapia Comunitária Integrativa constrói redes sociais de promoção da vida, mobilização de recursos e competências dos indivíduos na comunidade; valoriza a dimensão terapêutica do próprio grupo e o saber produzido pela experiência de vida de cada um. Neste serviço, a prática integrativa através das rodas de terapia comunitária mostrou-se eficaz como dispositivo de cuidado, ao atuar na promoção e prevenção da saúde e redução de danos.