Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Hortas comunitárias na ampliação do cuidado em saúde

Produção de saúde pautada em diretrizes que propõem participação social, intersetorialidade, educação e afeto. 
Rio de Janeiro - RJ
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Rebeca Nascimento Marinho da Silva; Sofia Sayuri Yoneta
rebecasmarinho@gmail.com
Instituições vinculadas: 
CMS Madre Teresa de Calcutá e CF Maria Sebastiana de Oliveira
Resumo afetivo: 

As hortas comunitárias têm o papel de produzir alimentos através do trabalho voluntário da comunidade, e todos podem participar. Nossas hortinhas surgiram como um espaço de educação permanente sobre alimentação, nutrição e meio ambiente, com incentivo ao resgate e valorização de alimentos locais, de baixo custo, com acesso democrático. Porém, no seu processo, percebemos seu potencial de afeto e cuidado e logo outros grupos passaram a integrar e contribuir com o espaço, como a Academia Carioca, grupo da dor, tabagismo, de crianças e se Saúde Mental. Além disso, por estarmos ao ar livre, a horta se tornou uma porta de entrada para a unidade de saúde, e algumas vezes as demandas poderiam ser ali encaminhadas, já que sempre tinha a presença de profissionais de saúde, agentes comunitários e/ou estagiários. O espaço possuía uma troca de saberes muito rica, e de forma horizontal, onde muitos usuários do serviço contribuíam muito mais que os profissionais, além de fomentar este tipo de prática em outros equipamentos, contribuindo para uma rede intersetorial, já que o contato com a terra faz parte da história de vida de muitos, principalmente pessoas mais velhas ou provenientes de cidades mais interioranas.    

Contexto: 

A presença da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) é fundamental para o desenvolvimento de atividades como essas, além da presença da academia, seja com a presença de estagiários ou com investimentos e apoio logístico. Apesar de parecer uma atividade simples e barata, a concretização e manutenção, bem como sua capacidade de produção de alimentos, irá depender muito do cenário encontrado na unidade de saúde ou em outro equipamento social, por exemplo, o espaço com terra, materiais para o plantio, disponibilidade de água, etc. 

Motivações: 

Diante de um território carente de informações sobre saúde, se teve a ideia de trabalhar com uma ferramenta de cuidado mais potente, para além da realização de consultas ambulatoriais. Além da necessidade atual de se discutir sobre meio ambiente e nossa implicação no cuidado com o planeta. Assim, a separação do lixo para utilização em compostagem foi uma das principais atividades desenvolvidas, além de se falar sobre agrotóxicos e alimentos orgânicos, oficinas culinárias, redução no consumo de plástico, ervas medicinais e seu uso e outras Práticas Integrativas Complementares em Saúde. 

Parcerias: 

Inicialmente o público alvo eram os usuários dos serviços de saúde, onde as hortas foram implantadas, mas a produção de conhecimento foi de ganho para todos que participavam. Nossa experiência teve a contribuição/parceria/apoio das gerências locais, um comerciante do comércio de alimentos orgânicos, extensão universitária e programas de estágio docente, Comlurb, igreja evangélica e setores específicos da gestão municipal. Além da participação de diferentes profissionais das unidades de saúde. 

Objetivo: 
  • Criar um grupo terapêutico segundo os pressupostos da Clínica Ampliada; 
  • Educação permanente;
  • Discutir temas sobre Alimentação, Meio Ambiente e Saúde Mental;
  • Valorização da cultura e saberes locais;
  • Viabilizar um acesso mais democrático ao SUS, com uma porta de entrada acolhedora, em diversos sentidos;
  • Fortalecer a rede intersetorial no bairro.
Passo a passo: 

A experiência foi realizada em três etapas. A primeira foi a busca de parceiros e dispositivos existentes nas unidades de saúde e no território que pudessem contribuir, além de conhecer e estabelecer parcerias com comerciantes locais e diversos projetos de extensão universitária. Paralelamente, fomos em busca de trabalhadores das unidades de saúde com alguma expertise no tema, conhecer experiências anteriores a nossa chegada e possíveis contribuições de usuários antigos das unidades. A segunda etapa foi a reunião com os parceiros/interessados para planejamento das atividades iniciais, com distribuição de tarefas. Entre o planejamento e a inauguração da horta foi realizada a divulgação no território, principalmente através dos Agentes Comunitários de Saúde, e por último, saiu-se em busca dos materiais que viabilizassem a inauguração. 

Efeitos e resultados: 

As hortas comunitárias se provaram como potentes para o cuidado, com impacto positivo na saúde mental, promovendo a convivência intergeracional e não segmentada em linhas de cuidado, e pouco prescritiva. Outro elemento é a possibilidade do vínculo proativo, no qual o usuário deixa de ser apenas um beneficiário do serviço e passa a contribuir com o mesmo. Viabilizou-se a criação de um espaço para o diálogo sobre produção dos alimentos, trabalho multiprofissional e parcerias intersetoriais.

As hortas são parte da estratégia de produção de saúde pautada em diretrizes que propõem participação social, intersetorialidade, educação e outras. Alguns desafios nesse processo foram a falta de conhecimento técnico e de financiamento para aquisição de materiais e realização de oficinas, e a dificuldade de manutenção. Todavia, o espaço impressionou positivamente os profissionais pelas melhoras apresentadas dos participantes, tanto nas queixas de saúde, quanto no vínculo com a unidade.

Foi percebido que esta prática se institui não apenas uma nova forma de cuidado, mas que tem potencial permanente através do usuário/morador do território, fato percebido com a saída dos profissionais que idealizaram o projeto inicial e a continuidade do espaço.