Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Grupo GAM: a Gestão Autônoma da Medicação como dispositivo de cuidado em saúde mental

É uma estratégia para ser praticada de forma coletiva, de modo dialogado e compartilhado, onde o usuário é o protagonista do grupo.
Tiradentes - SP
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Palavras-chave: 
Autores: 
Amanda Costa Rocca Mori, Anamelia Alvarenga Nascimento, Janaína Bueno de Oliveira, Neila Aparecida Petenusso Mota.
capstiradentes@gmail.com
Instituições vinculadas: 
CAPS II Tiradentes - São Paulo. OSS Santa Marcelina
Resumo afetivo: 

Possibilitar que as pessoas tenham autonomia para negociar ativamente os medicamentos que lhes façam bem, assim como acessar outras formas de tratamento através da metodologia GAM (Gestão Autônoma da Medicação), aproximar os familiares e responsabilizá-los pelo cuidado com a terapêutica medicamentosa. Destina-se a ajudar as pessoas a refletir o uso dos medicamentos e melhorar a qualidade de vida. O público alvo escolhido foram os usuários mais institucionalizados e crônicos que faziam uso abusivo das medicações como tentativa de solucionar os problemas de vida. A maioria dos usuários não possuía interesse em participar de atividades coletivas, apresentavam-se poliqueixosos e solicitantes em relação ao uso da medicação. Foi desafiador para os mediadores encontrar estratégias motivadoras para aumentar a participação dos usuários no grupo e torná-los protagonistas visando o objetivo principal do GAM.

Contexto: 

Este trabalho visa apresentar relatos de experiências com usuários na implantação do Grupo GAM (Gestão Autônoma da Medicação) no CAPS II Adulto Cidade Tiradentes. O grupo existe há cerca de um ano e surgiu com o objetivo de auxiliar usuários institucionalizados e crônicos que faziam o uso exagerado das medicações, como se medicalizando a vida todos os problemas fossem resolvidos. A proposta então surgiu para problematizarmos a importância de uma gestão autônoma da medicação como estratégia de cuidado. Em sua maioria são usuários na faixa etária entre 30 e 55 anos, que não tinham interesse em participar de atividades coletivas, se apresentavam poliqueixosos e solicitantes em relação ao uso da medicação. O método utilizado é o disponibilizado pelo Ministério da Saúde através do guia para moderador e participante, com questionários a serem respondidos como recurso disparador para o grupo, coordenado por quatro moderadoras: farmacêutica, psicóloga, psiquiatra e enfermeira. Além disso, surgem questões relacionadas ao mundo do trabalho, machismo, violência doméstica, conflitos familiares, discriminação, estigmas e preconceitos em relação às pessoas em sofrimento psíquico e o cuidado psicossocial. Vale destacar que os próprios usuários escolheram uma ação concreta que foi a venda de “geladinho/gelinho” como estratégia de cuidado para além da medicação. Percebe-se que quando se abre um espaço terapêutico onde surgem diversas temáticas em que o sujeito fala sobre si, seus conflitos e sintomas, o processo grupal se dá pela horizontalidade e estes não se sentem tão sozinhos em seu sofrimento psíquico, facilitando um auxílio mútuo e o entendimento de que não é possível apenas medicalizar a vida e que o cuidado em saúde mental vai além da medicação. Discutindo essas temáticas os usuários ampliaram a percepção sobre si e o mundo ao seu redor, saindo do lugar de vítimas e/ou algozes para sujeitos de suas histórias. O processo grupal vivenciado por estes sujeitos passou pelo aceitação das contradições e ambiguidades da vida, pela não vitimização e pela problematização sobre a medicalização da vida, favorecendo a construção de uma identidade coletiva integrando suas trajetórias individuais a uma trajetória coletiva. Observa-se, em sua maioria, a remissão dos sintomas, melhora nas relações intersubjetivas e entendimento sobre o uso correto da medicação, favorecendo o acompanhamento no CAPS e o processo de alta para atenção básica. Configura-se como um eficaz meio para problematizarmos o processo de adoecimento e a busca por novas formas de lidar com o cuidado com mais autonomia e sendo sujeitos de sua história.

Motivações: 

A existência de usuários institucionalizados e que fazem uso abusivo das medicações para solucionar as dificuldades da vida. O CAPS está alocado em um território com alta vulnerabilidade social, considerável índice de violência e um dos menores IDH da cidade de São Paulo.

Parcerias: 

OSS Santa Marcelina auxiliou na capacitação dos moderadores e incentivou a multiplicação deste dispositivo nas outras unidades de saúde mental.

Objetivo: 
  • Apresentação dos relatos dos usuários na implementação do grupo GAM;
  • Ajudar os usuários a terem autonomia no seu tratamento medicamentoso para melhorar sua qualidade de vida.
Passo a passo: 

Guia GAM do moderador e usuário, utilizamos técnicas não verbais em alguns momentos para estimular a participação dos integrantes.

Efeitos e resultados: 

Foram observados no decorrer deste período usuários menos poliqueixosos, com maior aderência aos grupos terapêuticos e aumento na autonomia.