Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Festival Intermunicipal da Juventude como estratégia de implementação da política nacional de atenção integral à saúde de adolescentes em conflito com a lei

Encontro de jovens acompanhados pela rede de atenção intersetorial que ocorre em praças públicas das cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo.
Novo Hamburgo e São Leopoldo - RS
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Analice Brusius; Magale de Camargo Machado; Cristina Klaus
analicebrusius@gmail.com; magalemachado@gmail.com; crisklaus@hotmail.com
Instituições vinculadas: 
Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul e Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo
Resumo afetivo: 

O Festival Intermunicipal da Juventude compõe o Plano Operativo Local (POL) dentro da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI). São eventos semestrais em praças públicas, com a participação de 50 jovens, acompanhados em medida socioeducativa de internação, semiliberdade, em Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), na Atenção Básica em Saúde e em outras instituições que também atuam com jovens. Durante o Festival são promovidas atividades esportivas, artísticas e de integração. Os Festivais são representativos de práticas criativas de cuidado em saúde para jovens.

A realização dos festivais requer o desejo e o engajamento dos profissionais que acompanham os jovens participantes com o desafio de ultrapassar formas tradicionais de intervenção em saúde, fazendo com que cada um possa se deparar com os limites do seu saber reconhecendo no outro a possibilidade de compor um coletivo para o seu trabalho. A participação direta dos jovens na organização dos festivais é fundamental e desafiante, sendo esta uma iniciativa que faz parte do aprofundamento e avanço do trabalho.

Destaca-se a adesão dos jovens e a demanda por novos encontros; a promoção da integração e socialização; o fortalecimento e a multiplicação dos saberes produzidos pelos participantes, como sendo pontos altos e incentivadores para as reedições semestrais dos festivais.

Contexto: 

Os Festivais Intermunicipais da Juventude tem como proposta trabalhar com jovens que apresentam diferentes vulnerabilidades. Busca-se criar práticas coletivas intervindo em situações de isolamento e segregação social que muitos destes jovens vivenciam e que modelos tradicionais de acompanhamento da rede de atenção não dão conta de romper e transformar esta realidade. Percebe-se que o trabalho de atenção integral à saúde de adolescentes requer intersetorialidade e interdisciplinaridade entre arte, esporte, cultura, lazer e saúde. Os encontros entre diferentes setores, áreas do conhecimento e territórios contribuem para práticas inventivas de promoção de saúde mais acessíveis aos jovens. A maior alcançabilidade aos espaços promotores de saúde integral é uma das emergências que ocorre neste tipo de trabalho na rede de atenção à juventude.

 

Motivações: 

A principal motivação para a criação desta proposta foi a constatação de que existe um afastamento entre a rede de atenção psicossocial e os jovens e, especialmente, no caso dos jovens que se envolvem com a violência ou cumprem medidas socioeducativas. Além disso, é perceptível que modelos tradicionais de atendimentos clínicos individuais não dão conta das necessidades dos jovens que muitas vezes não aderem a este tipo de acompanhamento. Acredita-se que durante a realização dos Festivais da Juventude é possível promover vínculos entre os jovens e com a rede de atenção, aproximando-os de práticas de cuidado com a saúde. Acredita-se que a promoção destes laços entre os jovens e com a rede de atenção psicossocial pode auxiliar na ressignificação de situações de violência vivenciadas por eles.

Parcerias: 

A atividade dos Festivais Intermunicipais da Juventude são organizados a partir do Grupo de Trabalho do POL (Plano Operativo Local ) formado por representantes da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul, Secretaria Municipal de Saúde e Secretaria Estadual de Saúde. Os membros do GT do POL convidam representantes de serviços dos municípios de Novo Hamburgo e São Leopoldo para compor e auxiliar na organização do Festival. São instituições que auxiliam na organização: Centro de Atendimento Socioeducativo Novo Hamburgo (CASE NH), Capsi de Novo Hamburgo, Capsi de São Leopoldo e Centro de Atendimento de Semiliberdade de São Leopoldo, Estratégia de Saúde da Família, entres outros serviços da rede de atenção psicossocial.

Objetivo: 
  • Oportunizar vivências coletivas com jovens em espaços públicos promovendo vida, saúde e socioeducação;
  • Articular a rede de atenção de jovens da região;
  • Construir estratégias de acesso de jovens ao cuidado em saúde;
  • Criar possibilidades de subjetivação, politização, responsabilidade e protagonismo.
     
Passo a passo: 

O planejamento de cada Festival é organizado pelo Grupo de Trabalho - GT Pol com os demais convidados que são profissionais representantes dos serviços. Cada instituição participante leva um grupo de aproximadamente dez jovens que tem entre doze e vinte anos de idade. Os representantes dos serviços dialogam com os jovens que participarão para trazer sugestões de atividades para a comissão. O grupo organizador se reúne de duas a três vezes e se comunica por meio de um grupo do whatsapp criado para este fim. Para montagem dos recursos humanos e materiais para cada Festival é realizada uma divisão de tarefas, entre os integrantes do grupo de organização do Festival. As atividades variam em cada festival, conforme disponibilidade de parceiro da rede intersetorial e o interesse dos jovens, que circulam em torno de torneios esportivos de voleibol, futsal, futebol, basquete; atividades artísticas da música (Rap, Hip Hop), grafitagem, criação de fanzines, ações de educação em saúde (direito sexual e reprodutivo e prevenção de ISTs e AIDS, alimentação saudável, saúde bucal, entre outras). Também são buscadas ações realizadas pelos próprios adolescentes com grupos já constituídos na rede de atenção como Grupos Multiplicadores de Saúde.

Durante o Festival, os profissionais destes diferentes serviços interagem com os jovens. Também se torna possível aos jovens que cumprem medidas socioeducativas interagir com os adolescentes que realizam atendimento no Capsi e perceber que este serviço também é acessível a eles. Além disso, os jovens atendidos pela rede de atenção podem interagir com outros que cumprem medida socioeducativa no CASE NH e reconhecê-los como parte da comunidade, apesar de estarem institucionalizados e cumprindo medida privativa de liberdade. Faz parte do Festival da Juventude momentos de alimentação coletiva que ocorrem durante o lanche da manhã e almoço, constituindo-se em uma oportunidade de importante integração.
 

Efeitos e resultados: 

Quando trabalha-se ações de saúde com o público jovem e, especialmente, com aqueles que trazem em suas trajetórias marcas de situações de violência vivenciadas, percebe-se o quanto é frágil a sua vinculação com a rede de atenção à saúde. Apesar deste distanciamento, as necessidades apresentadas por estes jovens com relação a este cuidado são muito significativas. Por este motivo, é muito relevante que os Festivais Intermunicipais da Juventude tornaram-se representativos de práticas criativas de cuidado em saúde para jovens, ultrapassando barreiras existentes para estes jovens receberem um olhar diferenciado que reconhece as suas especificidades. Através desta atividade é possível ressignificar a relação do jovem com a atenção à saúde, fortalecendo-a. Constata-se, a cada evento, a adesão dos jovens e a manifestação de desejo por novos encontros; a promoção da integração e socialização de jovens. Atua-se com o fortalecimento e multiplicação dos saberes produzidos pelos jovens desde os serviços e também nos territórios em extensão, promovendo a circulação em espaços públicos da cidade e a potencialização da rede intersetorial.

 

Conte um pouco mais: 

 

"A proposta de realização dos Festivais Intermunicipais da Juventude se diferencia por ter um olhar direcionado para as especificidades desses jovens que participam da atividade e se destaca por ocorrer em espaços públicos.O encontro entre os jovens de realidades distintas, de acordo com os projetos dos quais são oriundos, abre novas possibilidades de imaginação, de diálogos, de interações e de experiências quesimbolizam a abertura para outros caminhos de reconciliação com a rede de saúde e de inserção social."

-Naasom Luciano da Rocha - Secretário da Secretaria Municipal de Novo Hamburgo