Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Experiência de residentes de um programa multiprofissional em saúde da família no consultório na rua do Recife: Intersetorialidade na rua

Experiência vivenciada por residentes em saúde da família junto a uma equipe de consultório na rua (CnaR) da cidade do Recife-PE, como estratégia de fortalecimento da intersetorialidade na saúde. 
Recife - PE
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Jennifer Silva Barbosa; Nilma Maria Santos Castro; Jéssica Mayara Santos Alves; Fabíola Maria Paes de Lyra 
jennifer.souza2014@hotmail.com 
Instituições vinculadas: 
Ruas do Distritos Sanitários VI e VIII (Boa Viagem, Brasília Teimosa, Imbiribeira, Ipsep, Pina, Cohab, Ibura e Jordão) da Cidade do Recife, Pernanbuco.  Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Secretária de Saúde da Cidade do Recife
Resumo afetivo: 

A nossa vivência junto a equipe de Consultório na Rua (CnaR) dos Distritos Sanitários VI e VII da cidade do Recife contribuiu na constatação da importância da intersetorialidade no cuidado à saúde como ferramenta que possibilita a troca de saberes entre os atores envolvidos e um olhar integral e ampliado às condições de saúde da População em Situação de Rua (PSR). Observamos ainda o comprometimento inspirador da equipe de CnaR. São unidos, planejam e trabalham visando o objetivo comum que é garantir o direito à saúde deste grupo social tão marcado por estigmas e de grande vulnerabilidade social, apesar de todos os entraves enfrentados como a falta de recursos materiais e humanos e desarticulação da rede, dificultando o bom andamento de suas atividades, principalmente as ações de educação em saúde.

Contexto: 

A PSR é um grupo extremamente estigmatizado, ignorado, invisibilizado, não só pela sociedade como também pelos profissionais de saúde. São pessoas que apresentam vínculos familiares rompidos ou fragilizados, utilizam ambientes públicos e/ou áreas degradadas como espaços de moradia e sustento, além de terem seus direitos constitucionais básicos frequentemente negados ou negligenciados. 

A Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) assegura os direitos de populações mais vulneráveis a partir das equipes de saúde na atenção básica. Dentre elas, tem-se a equipe de Consultório na Rua (eCR), responsável para lidar, de forma multidisciplinar, com os diferentes cenários e condições de saúde apresentados pela PSR, constituindo a porta de entrada dessa população aos serviços de saúde, devendo trabalhar em parceria com os demais serviços que compõe a Rede de Atenção Psicossocial, serviços tais como: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), entre outros. Priorizando, dessa forma, que a assistência e o cuidado dessa população sejam realizados no próprio território onde estão concentradas. 

Atualmente existem 164 Equipes de Consultório na Rua (eCR) atuando no Brasil. Em Pernambuco existem apenas seis, das quais duas atuam na cidade do Recife, uma no Distrito Sanitário (DS) I e a outra nos DS VI e VIII. Ambas são eCR modalidade I, que de acordo com normativa ministerial, deve ser formada por quatro profissionais, dentre eles dois profissionais de nível superior e dois profissionais de nível médio. Entretanto nenhuma das equipes de Recife está completa, o que compromete bastante o trabalho desenvolvido pelas mesmas.

Objetivo: 

Relatar experiência vivenciada por residentes em Saúde da Família junto a uma equipe de Consultório na Rua (CnaR), como estratégia de fortalecimento da intersetorialidade na saúde.

Passo a passo: 

A experiência durou cinco meses e foi vivenciada por quatro residentes em Saúde da Família de diferentes categorias profissionais (enfermagem, terapia ocupacional e odontologia). Após a inserção, procurou-se entender o papel do CnaR enquanto serviço integrante da Rede de Atenção à Saúde e suas articulações com outros serviços, bem como o processo de trabalho da equipe. A equipe executa suas atividades de segunda a sexta de 9h às 17h, além do plantão noturno semanal que ocorre nas quartas-feiras das 18h às 22h, distribuidas em uma carga horária de 30h semanais. As atividades desenvolvidas pela eCR são: estabelecimento de vínculo com a população, acolhimento e cadastramento dos usuários, fornecimento do Cartão Nacional de Saúde (CNS), busca ativa no território, marcação de consultas/exames e condução da população, visitas à usuários institucionalizados e ações intersetoriais, principalmente com a Assistência Social. Participamos ativamente de todas as práticas desenvolvidas pela equipe, inclusive das poucas ações de educação em saúde.

Efeitos e resultados: 

O CnaR visa garantir o acesso à saúde da População em Situação de Rua (PSR), sendo espaço de escuta e trocas sociais. Nele é estimulado a utilização de potencialidades como o fortalecimento dos vínculos e corresponsabilização do cuidado. Através de orientações e conversas, o trabalho que realizamos com os usuários provocou o empoderamento e mudanças no estilo de vida quanto ao autocuidado e autoproteção. Obtivemos um feedback positivo dos usuários sobre todas as ações e intervenções. 

Sendo assim, concluímos que vivências práticas em outros serviços como o CnaR fortalece não somente a compreensão sobre a intersetorialidade como também fomenta nos profissionais em formação o respeito pelo trabalho do outro, a corresponsabilização do cuidado e o comprometimento pautado nas especificidades de populações vulneráveis como a PSR.