Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Estratificação de risco: uma forma de ampliar a clínica para gestão do cuidado

A atenção humanizada busca efetivar um modelo centrado no usuário e nas suas necessidades de saúde a fim de entender o significado do adoecimento e oferecer um cuidado integral.
Presidente Prudente - SP
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Vanessa Fassina
vanessavf@uol.com.br
Instituições vinculadas: 
Estratégia Saúde da Família (ESF) Jardim Regina, Presidente Prudente/SP. Prefeitura Municipal de Presidente Prudente (SP), Departamento Regional de Saúde de Presidente (DRS - XI) e Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
Resumo afetivo: 

A reorganização do grupo HiperDia na ESF Jardim Regina (Presidente Prudente/SP) favoreceu o aumento do vínculo entre a equipe e os pacientes, reduziu a sobrecarga do atendimento médico, além de valorizar o papel da enfermeira no cuidado à saúde. Proporcionou a construção coletiva de conhecimento, a reflexão acerca da realidade vivenciada pelos seus membros, buscando a autonomia do paciente e um viver mais saudável.

Contexto: 

Sou Vanessa Fassina, médica, atuo na Estratégia Saúde da Família no município de Presidente Prudente (SP) desde 2009 e faço parte da equipe da ESF Jardim Regina há sete anos. 

A unidade está em funcionamento desde maio de 2012 e tem sua equipe composta por uma médica, uma enfermeira, três auxiliares de enfermagem, uma farmacêutica, seis agentes comunitários de saúde, uma dentista e uma auxiliar em saúde bucal. Fica localizada na zona urbana do município, possui 3089 pacientes cadastrados, sendo 16,7% acima de 60 anos. As doenças mais prevalentes no território são hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, osteoartrose, dislipidemia, obesidade e dor articular, segundo dados do eSUS-Atenção Básica. 

A unidade recebe apoio de cinco profissionais do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), sendo uma assistente social, um farmacêutico, uma fonoaudióloga, um nutricionista e um psicólogo.

O atendimento em grupo aos pacientes com hipertensão arterial e diabetes mellitus (HiperDia) ocorre na unidade desde a sua inauguração, no ano de 2012. Os pacientes são classificados de acordo com a Estratificação do Risco Cardiovascular (Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Volume 109, nº 1, agosto 2017) e alocados nos grupos de risco alto, intermediário e baixo. Após o acolhimento pela equipe de enfermagem, os pacientes participam de atividades de educação em saúde em grupo, e em seguida aguardam para passar por consulta individualizada.

Motivações: 

O nosso território é dividido em seis micro áreas e cada uma delas tem seu dia definido para atendimento dos pacientes do grupo HiperDia. Até o final do primeiro semestre de 2016, o atendimento dos grupos acontecia de modo intercalado, sendo o grupo de risco alto atendido nos meses ímpares e o risco intermediário e baixo nos meses pares. No dia do grupo, a equipe de enfermagem realizava o acolhimento dos pacientes, verificava pressão arterial e glicemia capilar (se diabético) e perguntava se eles gostariam de passar por atendimento médico, devido queixas, ou apenas retirar a receita.

A decisão para reorganizar o atendimento do grupo surgiu durante a minha participação, juntamente com minha enfermeira, Elisabete, de uma atividade de educação continuada sobre Clínica Ampliada no primeiro semestre de 2016, promovida pelo Departamento Regional de Saúde de Presidente (DRS - XI), na qual tivemos que implantar alguma melhoria na oferta do atendimento para a nossa população.

Ao fazermos o levantamento dos prontuários dos pacientes, constatamos que sempre os mesmos passavam por atendimento médico e uma parcela deles estava sem atendimento há mais de um ano, inclusive com exames laboratoriais atrasados. Não havia a prática da consulta pela enfermeira. Como a maior parcela dos pacientes frequentadores do grupo HiperDia é composta por idosos, as consultas médicas individualizadas tornavam-se demoradas devido as comorbidades e queixas dos pacientes.

Na atividade de educação em saúde geralmente eram realizadas palestras "ensinando" o paciente como lidar com a sua doença, sem muitas vezes permitir que o usuário pudesse relatar a sua experiência e dificuldades em relação a sua patologia.

Parcerias: 

O empenho dos profissionais integrantes da equipe da ESF Jardim Regina foi fundamental para a melhoria do cuidado proporcionado no atendimento do grupo HiperDia.

Cada membro da equipe de saúde deu sua contribuição, seja separando os prontuários (auxiliares de enfermagem e agentes comunitários), realizando a estratificação do risco cardiovascular (médica e enfermeira), levantamento estatístico dos dados (farmacêutica).

O Departamento Regional de Saúde de Presidente (DRS - XI) proporcionou a capacitação sobre Clínica Ampliada, além de promover o III Fórum de Humanização, ocorrido em dezembro de 2016, no qual foram apresentadas as experiências exitosas implantadas a partir dessa atividade. Nosso trabalho foi um dos selecionados e foi apresentado no formato de mídia visual. 

Contamos com a presença de estudantes do curso de medicina e enfermagem da Unoeste que participam das atividades de educação em saúde e atendimento individualizado.

O público alvo foram os pacientes diabéticos e/ou hipertensos que frequentam o grupo HiperDia da ESF Jardim Regina, no município de Presidente Prudente (SP).

Objetivo: 
  • Reorganizar o atendimento dos pacientes que frequentam o grupo HIPERDIA em uma unidade de Saúde da Família no município de Presidente Prudente (SP).
  • Estreitar o vínculo com os esses pacientes através da melhoria do acesso ao atendimento médico e de enfermagem, permitindo qualificar o cuidado de modo a melhorar a condição clínica e a redução do risco de evento cardiovascular.
  • Promover atividades de educação em saúde para estimular a autonomia do paciente em relação à sua condição clínica.
Passo a passo: 

A estratificação do risco cardiovascular dos pacientes que frequentam o grupo foi refeita entre os meses de março e maio de 2016, com os pacientes realocados de acordo com sua classificação. 

Utilizamos a sugestão de periodicidade de acompanhamento em consulta médica e de enfermagem do Ministério da Saúde (Cadernos de Atenção Básica, nº 37, p. 74) para distribuirmos a frequência do acompanhamento dos grupos. Foi feita uma adaptação dessa sugestão à nossa rotina de trabalho, com os grupos de risco alto sendo realizados a cada dois meses; os de risco intermediário, a cada quatro meses e os de risco baixo, a cada seis meses.

O atendimento dos pacientes é realizado de forma alternada entre mim e a enfermeira, a cada grupo que o paciente participa. Se o paciente atendido pela enfermeira apresentar alguma queixa que ela não consiga resolver, fazemos o atendimento compartilhado. Desse modo, todos os pacientes que comparecem recebem atendimento individualizado, seja pela médica ou pela enfermeira.

A estratificação do risco cardiovascular vem sendo feita periodicamente, desde então, nas consultas médicas a cada renovação de exames laboratoriais ou na ocorrência de algum evento adverso do paciente (ocorrência de lesão de órgão alvo).

A confecção das receitas também segue o intervalo entre as consultas. Os pacientes do grupo de risco alto levam a receita com validade para 60 dias; os do risco intermediário, para 120 dias e do risco baixo, 180 dias. 

A atividade de educação em saúde foi modificada. Trazemos a informação de maneira mais informal, muitas vezes na forma de conversa e até mesmo como teatro, sempre estimulando o paciente a dialogar e compartilhar sua experiência em relação à sua condição clínica e como isso influencia seu modo de vida.

Efeitos e resultados: 

A elaboração do novo cronograma de atendimento ampliou o cuidado ao usuário por ter melhorado o acesso do paciente à consulta médica e de enfermagem. Favoreceu a construção coletiva de conhecimento, a educação em saúde, a reflexão acerca da realidade vivenciada pelos seus membros, proporcionando um viver mais saudável. O trabalho em grupo também estimulou a participação dos indivíduos no processo educativo em saúde a partir do compartilhamento das experiências vivenciadas no seu cotidiano.

Dentro da proposta da Clínica Ampliada, buscou-se a melhor integração entre equipe e usuários, valendo-se da escuta qualificada, da criação do vínculo, buscando a autonomia do paciente. O atendimento em grupo mostrou-se como estratégia facilitadora no atendimento da população hipertensa e diabética. Contribui para a promoção e reorganização do cuidado, sua qualificação, ampliando as estratégias de cuidado e para promoção da saúde e prevenção das complicações das doenças crônicas.