Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Coletivo Mandela: ocupação e resistência em área urbana – saberes, garantia de direitos e integralidade em saúde

"Deixar de ser indivíduo, e tornar-se sujeito coletivo".
Campinas - SP
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Cathana Freitas de Oliveira Kamila de Oliveira Belo Maria do Carmo Carpintéro Raquel Teixeira Lima Carina Fontana Francischini André Pimenta de Melo
kamilabelo25@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Universidade Estadual de Campinas - SP
Resumo afetivo: 

A Ocupação Urbana Nelson Mandela está localizada no Distrito Industrial de Campinas - SP, em terreno abandonado que foi ocupado por comunidade, composta por 108 famílias. Ocupação é resultado de reintegração de posse truculenta de outra ocupação em 2016, passando parte das famílias a viver nesta área, onde permanecem. O trabalho na Comunidade Nelson Mandela nos convocou a construir coletivamente de modo próximo e afetivo uma parceria, atravessada por troca de saberes e experiências. A marca desse processo foi de uma potente rede solidária que se sustentou mesmo frente a muitas vulnerabilidades. O trabalho na Comunidade Nelson Mandela nos convocou a construir coletivamente de modo próximo e afetivo uma parceria entre o coletivo de trabalho e moradores, atravessada por troca de saberes e experiências. A marca desse processo foi de uma potente rede solidária que se sustentou mesmo frente a muitas vulnerabilidades. Este processo envolveu trocas afetivas de grande intensidade emocional, tanto no acolhimento quanto nos momentos que envolviam discordâncias e desconfortos. Em relação a estes últimos que surgiam em especial, em determinadas discussão em que havia questionamento dos papéis tradicionais de gênero e de um exercício de desconstrução de certos padrões mais rígidos e desiguais entre as famílias. Nosso debate trouxe um desafio para o coletivo, que muitas vezes teve que pensar em estratégias e modos de lidar com essas diferenças e resistências.

Contexto: 

Após uma violenta desocupação da área e uma nova ocupação, 108 famílias são mais uma vez expostas à dificuldade de cuidar de suas famílias, em condições precárias de higiene e moradia, com um fator que piora ainda mais a situação: como estão em limite de territórios de serviços de saúde, nenhuma unidade básica conseguiu definir, inicialmente, quem atenderia aquela população. Ambas, unidades sobrecarregadas, território com alta densidade populacional, altamente SUS dependente. Foi se construindo enquanto demanda para essa população dialogar com as entidades que representassem o distrito de saúde para atendimento imediato da situação de saúde da população. Ali viviam Ao sofrer uma reintegração de posse violenta e vivendo algumas semanas em condições críticas de moradia provisória ofertada pela prefeitura local ocupam nova área urbana na zona leste de Campinas. E rapidamente. No momento que conhecemos a líder comunitária, ela nos informava sobre a presença de gestantes, bebês e crianças, casos de graves de doença crônicas e doença mental. As emergências dependiam de um longo trajeto até o hospital. Poucos ônibus e poucos moradores tinham transporte próprio. Várias reuniões com as líderes foram realizadas até definirmos como criar frentes de trabalho para cada demanda.

Motivações: 

O trabalho no Mandela começou através de uma mobilização da comunidade frente a ameaça de despejo e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde enfrentadas pela população dali que era barrada nos serviços devido a não regularização de sua moradia. A vulnerabilidade de várias ordens, com a negação ao direito à moradia dificultando o acesso de saúde, implicava dificuldades sanitárias, nutricionais, conflitos interpessoais atravessadas por desigualdades de gênero, uso problemático de substâncias e sofrimento psíquico. Ao mesmo tempo o que chamava bastante atenção neste coletivo, era a presença de mulheres na liderança. Espaço geralmente ocupado por homens. Então, além de administrar as questões gerenciais desse espaço, essas lideranças muitas vezes, como na nossa sociedade, eram também colocadas como cuidadoras, mães, irmãs, avós, acolhendo também as demandas de saúde dessa comunidade. Nesse sentido a comunidade conseguiu construir redes orgânicas de solidariedade que se mantiveram mesmo nos momentos de maior fragilidade, quando, por exemplo, eles sofreram a primeira remoção. Essas redes se formavam em assembleias regulares, grupos de lazer e esporte, redes sociais e religiosas. Dessa forma existia um investimento afetivo e laboral por parte das lideranças daquele espaço em procurar parcerias para lidar com essas vulnerabilidades diferentes e uma proximidade com o coletivo de trabalho. Através dessa proximidade diferentes demandas foram sendo elaboradas e intervenções específicas foram construídas. Ao longo do período de trabalho foram feitas reuniões, assembleias, questionários levantando dados e demandas da comunidade, grupos terapêuticos regulares para mulheres e homens, além de um evento de debate, comemoração e confraternização no dia mundial da saúde com múltiplas atividades simultâneas. Ausência de endereço oficial, e território não reconhecido como moradia residencial fixa; Negativa de acesso e acompanhamento, sendo negligenciados nas unidades básicas de saúde adscritas e pronto atendimentos no município de Campinas-SP; Desemprego, violência doméstica e uso problemático de álcool e outras drogas.

 

Parcerias: 

Trabalho realizado, por 6 profissionais (enfermeira, médicas,psicólogos); No município de Campinas-SP, em área de alta vulnerabilidade no PQ. Industrial, Público Alvo: 108 famílias da Comunidade Nelson Mandela. Alguns dados levantados: 40% homens e 60% mulheres, maioria negras (pretos e pardos) 78 casas com aproximadamente 196 moradores. Destes encontramos com 7 moradores com algum tipo de deficiência, 5 pessoas em Sofrimento mental grave, 15 vivendo com doenças respiratórias, com Pressão Alta haviam outros 15 moradores, 7 Diabéticos, 1 Gestante, 6 Crianças menor de 1 ano, 1 Idoso maior de 70 anos, 40 Tabagistas e 91 pessoas se declararam Desempregadas (as).

Objetivo: 
  • Acesso a conhecimentos e cuidados em saúde para Ocupação Urbana Nelson Mandela e articulação para inclusão em Redes de Atenção à Saúde na região de Campinas - SP;
  • Produção de escuta e cuidados em saúde mental como enfrentamento à medicalização, apoio a construção do espaço comunitário e pertencimento, mesmo em condições de exclusão social e violação de direitos básicos entre as mulheres;
  • Grupos de apoio e reflexão focados em discussões sobre os papéis de gênero e masculinidade na comunidade, a prevenção de violência doméstica, o uso de substâncias psicoativas e a redução de danos e a precarização do trabalho entre os homens;
  • Atuar para promoção do fortalecimento e combate ao medo e trauma pós desocupação, saindo do lugar de exclusão social, apresentando aos moradores novas formas de expressão e manutenção do bem estar para si dentro da comunidade.
Passo a passo: 

Desenvolvimento de grupos semanais com formação de lideranças em saúde a partir de temas escolhidos pela comunidade intercalados com grupo de saúde mental para mulheres com temas da experiência social da ocupação, vida na comunidade, violação de direitos e ausência de rede de apoio e medicalização.

Efeitos e resultados: 

Resultados Até o presente momento temos uma adesão de 15 a 20 mulheres, em média, por cada um dos grupos desenvolvidos. Chegada de novas pessoas semanalmente. Aproximação e desejo dos homens quanto a participação em atividades de saúde com ampliação do trabalho de grupos para noite discutindo masculinidade, violência e uso de álcool e drogas. Ampliação dos debates sobre territorialização, atendimentos individuais, direito a saúde e articulação para inclusão na RAS municipal. Criação de projeto de extensão universitário Análise Crítica Depois algumas semanas em condições críticas de moradia provisória ofertada pela prefeitura local ocupam nova área urbana. Desde então, as atividades comunitárias de inserção social com temas como acesso e integralidade na saúde, inseparabilidade entre a saúde e luta por garantia de direitos a moradia e cidadania auxiliam as participantes a trabalhar medo da exposição, empoderamento, saída do lugar da exclusão, novas formas de expressão e bem estar para si dentro da comunidade Conclusões e/ou Recomendações É necessário seguir e ampliação os grupos. Ampliar para reconhecimento pela rede , pois evidenciamos negligência nas unidades básicas de saúde adscritas e pronto atendimentos no município; justificados pela ausência de endereço oficial não reconhecido como moradia residencial fixa. A população não foi recebida para nenhuma reunião no posto de referência e no momento, há ainda recusas para acompanhamento a gestantes e crianças. O desenvolvimento de atividades para organização comunitária e inserção social passam a ser temas que auxiliam na compreensão sobre acesso e integralidade na saúde, apontando a inseparabilidade entre a saúde e luta por garantia de direitos a moradia e cidadania.