Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Atuação do SUS Laranjeiras: controle de tabagismo na atenção básica

A dedicação da equipe que encabeçava os grupos constituídos do Programa de Combate ao Tabagismo em Laranjeiras, justamente aos usuários do SUS que redescobriam o ânimo de vida saudável sem o uso cotidiano do cigarro, fez surgir o desejo de motivar outras pessoas a desenvolveram as atividades propostas na metodologia do Programa, como divulgador de prática executável para se atingir bons resultados no tratamento e cuidado integral em saúde, considerando a porta de entrada da atenção básica. Atenção Básica essa que, por meio dos seus profissionais - médico, técnica de enfermagem e enfermeira, perceberam, por meio de levantamento epidemiológico, o traço local e comum apresentado pela população assistida da Unidade de Saúde em relação ao consumo do tabaco e o fomento de desenvolver ações práticas nesse sentido: grupo de apoio ao combate, acolhimento, assistência medicamentosa, além do uso de goma de mascar e adesivo, parceiros também importantes no processo. No SUS, o fortalecimento dessas ações são surpreendentes, já que constituem como espaços coletivos de reconstrução do saber da população assistida, quase sempre dispersa de informação, acesso e que necessitam de escuta qualificada, cuidado integral e assistência as demandas, múltiplas, trazidas em suas particularidades.
Laranjeiras - SE
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Tércia Monteiro Viana Silva, Rosiane Gomes Souza, Tatiana Marcia Jatobá e Solange Correia.
terciamonteiro2@hotmail.com
Instituições vinculadas: 
Unidade Básica de Saúde Antônio Menezes Leite - Laranjeiras/SE
Resumo afetivo: 

Naquele período em que a experiência foi estudada e escrita com vistas a publicização de boas práticas no SUS, considerando um Programa inovador ao que cerne o tratamento e cuidado integral aos usuários do Tabago/cigarro e os efeitos negativos que o uso potencial desse pode causar ao organismo, verificou-se principalmente a eficácia dos grupos formados, tendo em vista a aceitação da população em conhecer e posteriormente a alavancada, com o uso de insumos que agregavam o sucesso do tratamento e finalmente, o não uso total do cigarro, podendo elencar pessoas de idades diversas e com perfis familiares e próprios totalmente distintos, mas que, na finitude do processo, se redescobriam como fomentadores coletivos para uma tomada de consciência de práticas saudáveis e produtivas para vida, em substituição ao uso do cigarro.

Contexto: 

Laranjeiras é um município brasileiro do estado de Sergipe. Sua população estimada em 2012 foi de 28.553 segundo o IBGE. Possui uma área de 163,4 km²; Cidade da Região Metropolitana de Aracaju, sendo considerada uma das poucas onde ainda se pode ver a força da arquitetura colonial, considerada berço da cultura, educação, política e da economia sergipana. 

 A Atenção Básica, em 2016, estava estruturada com 10 (dez) equipes de saúde da família, cobrindo 100% da população, e 9 (nove) equipes de saúde bucal, que totalizava também cobertura de 100% da população regional, já que possui profissionais da rede que asseguravam o atendimento juntamente com os odontólogos do Programa de Saúde da Família (PSF). 

No Brasil, a partir de 2004, o tratamento aos tabagistas começou a ser oferecido pelo SUS, por meio de portaria ministerial que estendeu o tratamento para a rede de atenção básica e de média complexidade. Em 2006, foi aprovada a Política de Promoção da Saúde, contida no Pacto pela Saúde 2006, no qual as atividades de controle do tabagismo fazem parte das propostas de promoção da saúde.

O Programa de Controle ao Tabagismo foi aderido em Laranjeiras no ano de 2015, com a primeira turma sendo iniciada no mês de fevereiro daquele ano, tendo como responsáveis, um médico com especialização em psiquiatria, uma auxiliar de enfermagem, uma enfermeira - esses pertencentes à Unidade Básica de Saúde Antônio Menezes Leite, e o psicólogo Igor Dantas, que foram inicialmente capacitados pela Secretaria Estadual de Saúde.

Importante salientar que os determinantes de implantação foram condicionados de acordo com a regulamentação nacional do Ministério da Saúde, conforme citado acima. O programa em Laranjeiras, no momento da escrita do trabalho, já estava na sua terceira turma, sendo que nas primeiras houveram participação de 10 pessoas com finalização de 09 no primeiro e 22 pessoas no segundo grupo, tendo finalização com 15 pessoas; tal controle era feito pela equipe multiprofissional que desenvolvia as atividades com os grupos durante a duração de cada ciclo (3 meses).

Naquela terceira turma, que teve início em 2016, a composição inicial foi de 18 pessoas, das quais permaneciam o mesmo quantitativo até o momento da apresentação do trabalho. Em relação ao fluxo para se chegar até a formação do grupo, considera-se que era feito referencialmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), de acordo com relatos dos usuários que procuram os serviços e já estavam acompanhados por tais equipes da Estratégia de Saúde da Família.

De acordo com a necessidade, os usuários eram cadastrados em uma lista de espera, a qual constava, dentre outras informações, telefone de contato e local de domicílio. A cada formação de grupo de Combate ao Tabagismo, essas pessoas eram contatadas para serem orientadas quanto ao início e a forma de realização das atividades, inclusive sobre a duração do grupo. 

A cada nova formação, os usuários recebiam orientações educativas, auxílio quanto à situação de saúde no momento, demanda prioritária quanto à marcação e realização de exames complementares para auxiliar no acompanhamento individual e em conjunto, assim como material de apoio a cada mês, de acordo com o decorrer do andamento do grupo, podendo citar: cartilhas de orientação que são trabalhadas inclusive a cada encontro, medicações ofertadas via Ministério da Saúde (adesivos de nicotina e BUP), além de goma de mascar. Alguns relatos individuais em relação a efeitos colaterais e outros sintomas normais da abstinência eram acompanhados e tratados pelo psiquiatra responsável pelo grupo, em momentos singulares com cada usuário em questão; nos momentos em grupos, dialogava-se sobre o andamento e a importância do cotidiano sem o uso do cigarro, forma de vivência até a suspensão total do uso, dentre outros.

A faixa etária dos grupos existentes em Laranjeiras variava na faixa etária de 45 e 61 anos, tendo um caso observado de um usuário com 77 anos que participava do atual terceiro grupo e tendo frequência positiva quando as idas. 

Motivações: 

A prática e sua execução partiu da percepção sensível das Equipes de Saúde do município em relação ao levantamento epidemiológico de pessoas que faziam uso do cigarro e os riscos potenciais para a saúde. Atrelado a isso, o compromisso em promoção e cuidados de saúde refletidos pelo médico daquela Equipe, sendo ele também psiquiatra, juntamente a técnica de enfermagem, enfermeira e o psicólogo do CAPS, que participavam ativamente da condução dos grupos constituídos temporalmente e com inscrição prévia.

Parcerias: 

Equipe da Unidade Básica de Saúde supracitada são os principais motivadores da execução da ação, principalmente destacando o olhar aguçado do médico integrante, que também tem especialização em psiquiatria, em parceria com a técnica de enfermagem daquela Unidade, no período da escrita do trabalho. Público-alvo são os usuários do SUS da própria localidade que tem referência para o Estabelecimento de Saúde citado, bem como pessoas de outras micro localidades que, com base nas informações acerca do Programa, também despertam o interesse em participar e são acolhidas de igual forma. A parceria acontece principalmente entre a Equipe de Saúde citada e a Secretaria Municipal de Saúde de Laranjeiras, que naquele ano, firmou parceria com a Secretaria Estadual de Saúde/Sergipe e recebia os medicamentos e materiais educativos que eram utilizados no desenvolvimento das ações do Programa, em cada grupo iniciado até a sua finalização. Além disso, a estrutura e demais objetos utilizados, eram fornecidos pela Secretaria Municipal.

Objetivo: 

Potencializar que seja acessível a execução de boas práticas, dentro da lógica da Atenção Básica, frente a Política Pública de Saúde desenvolvida nos municípios em relação as ações voltadas ao Programa de Tabagismo e o controle/combate ao uso pelos próprios usuários do SUS, que muitas vezes não possuem outras opções de acesso a tratamento e promoção de saúde e qualidade de vida que não seja o setor público.

Passo a passo: 

Sobre a dinâmica de atuação no local das reuniões, infere-se que, naquele momento, as mesmas eram realizadas em uma Associação Comunitária localizada no centro da cidade, de fácil acesso se levar em consideração a população do município; conforme adscrito, os grupos formados atendiam pessoas de todo município, que fossem matriciadas e atendidas na Atenção Básica e que tivessem anseio quanto ao não uso do cigarro. No local, era visível a existência de um mural com o nome de cada participante e a assiduidade diária/semanal quanto ao uso do cigarro, sendo avaliada a cada dia de reunião do grupo e assim observando dentre eles e dos próprios usuários em relação a isso. Existiam momento de relatos pessoais em relação a dificuldades e pontos fortes quanto ao uso do cigarro, relacionamento familiar no processo, forma de lidar com as situações durante o uso ou abstinência e assim as reuniões eram organizadas e conduzidas.

Efeitos e resultados: 

No que cerne aos resultados obtidos durante o ano de 2016, período em que o trabalho foi apresentado em Brasília/DF, de execução do Programa e segundo grupo formado e concluído, percebeu-se uma queda quanto ao uso do tabaco, como ponto positivo, podendo salientar ainda as informações que são propagadas dentro do seio familiar: sobre resultados, no geral, 05 pessoas tiveram parada total quanto ao uso do cigarro e 21 relatam terem diminuído substancialmente o uso da substância em questão. 

Em relação ao terceiro grupo, que estava atual atividade, a auxiliar de enfermagem e o médico especialista em psiquiatria relataram perceber o envolvimento assíduo dos usuários, cumprindo a risca em relação aos passos dos módulos dos meses e já denotando suspensão parcial e/ou quase total do uso do cigarro; a previsão de término desse grupo estava estipulada para segunda semana de maio daquele ano, de acordo com fluxo de datas definidas em cronograma prévio pactuado em grupo. 

A perspectiva de continuidade dos grupos era notória, visto o envolvimento da equipe que era responsável pelas atividades do Programa de Combate ao Tabagismo no município de Laranjeiras e ainda considerando a lista de espera de usuários que ansiavam  pelas informações advindas do grupo, com o objetivo de pararem em definitivo o uso do cigarro e assim melhorando a sua qualidade de vida e possibilitando maior equilíbrio também nas atividades cotidianas que desenvolvem e diminuindo os índices quanto a risco de doenças graves, a exemplo do câncer de pulmão.