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O presente trabalho foi bastante desafiador, pois os Centros de Saúde da Família tem muitas demandas e a violência doméstica contra a mulher nem sempre deixa marcas visíveis que possam ser perceptíveis em uma consulta de rotina. Dessa forma ter um olhar mais aprofundado e íntimo com o paciente é de extrema importância para que esse tipo de violência possa ser percebido e notificado. O diálogo sobre o assunto tanto com as mulheres do grupo quanto com os profissionais de saúde foram bastante enriquecedores e esclarecedores, observa-se que esse assunto ainda é bastante difícil de ser trabalhado devido o machismo ainda presente em nossa sociedade, mas que aos poucos novos olhares vão surgindo. A criação do fluxograma é um longo caminho a ser trilhado no intuito de dá visibilidade a violência doméstica contra a mulher na nossa sociedade e criar os mecanismos para seu enfrentamento.
A Estratégia Saúde da Família (ESF) propõe o cuidado às famílias e aos indivíduos na forma integral de atendimento, responsável por ações de promoção, prevenção e vigilância em saúde. É a porta de entrada para os demais serviços do SUS, onde nossa prática profissional não deve está restrita ao atendimento no Centro de Saúde da Família (CSF), mas também na promoção de ações baseadas na realidade do território, possibilitando estreitar o vínculo entre profissional e paciente, o que pode auxiliar na identificação precoce da violência doméstica sofrida pelas mulheres.
O presente estudo foi desenvolvido em um Centro de Saúde da Família (CSF) no município de Sobral, Ceará. É perceptível a falta de direcionamento nos atendimentos às mulheres vítimas de violência doméstica e o receio de preencher a ficha de notificação de violência, contribuindo para a subnotificação dos casos de violência doméstica contra a mulher. As situações de violência doméstica muitas vezes são naturalizadas sobre várias justificativas e não são vistas como violação aos direitos, fato que contribui para que o silêncio da violência não ultrapasse as fronteiras dos domicílios. Contudo, o assunto precisa ser exaltado nas discussões na comunidade e nos serviços de saúde.
O estudo foi desenvolvido por uma equipe de residentes multiprofissionais em saúde da família, composta por enfermeira, assistente social, fisioterapeuta e nutricionista. O público alvo constou de profissionais de nível médio, técnico e superior de um CSF do município de Sobral - CE. E mulheres participantes de um grupo também no CSF, de diversas faixas etárias, mas a maioria eram idosas e aposentadas.
- Desencadear um processo de reorganização da atenção às mulheres vítimas de violência doméstica na Estratégia Saúde da Família, do município de Sobral-CE;
- Incitar os profissionais na problematização das condutas na Estratégia Saúde da Família no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica contra a mulher;
- Construir coletivamente um fluxograma entre os profissionais da ESF para o atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica;
- Sensibilizar as participantes do grupo de mulheres sobre o enfrentamento da violência doméstica contra a mulher.
Estudo realizado por meio do método descritivo com análise qualitativa.
Foram realizadas cinco oficinas, as duas primeiras foram momentos de Educação Permanente sobre a violência doméstica contra a mulher envolvendo os profissionais. As oficinas serviram como espaços com potencial crítico de negociação de sentidos, permitindo a visibilidade de argumentos, posições, mas também deslocamentos, construção e contraste de opiniões.
As demais oficinas foram com as participantes do grupo, objetivando sensibilizá-las sobre a temática da violência doméstica contra a mulher, utilizou-se como referência a educação popular, que possibilita um momento de diálogo relacionando com a realidade local.
Na primeira oficina com as participantes do grupo foram utilizadas imagens dos tipos de violência contra a mulher para subsidiar roda de conversa sobre o tema. Esse momento buscou-se dar voz para as mulheres e conhecer suas histórias de vida e seus conhecimentos prévios sobre o assunto
Na segunda oficina assistimos ao curta “Acorda Raimundo, acorda”, buscou-se ampliar a visão do grupo para a temática e conversar sobre a naturalização da violência doméstica contra a mulher que ainda é algo marcante em nossa sociedade.
Na terceira oficina conversamos sobre a rede de proteção as mulheres vítimas de violência doméstica, destacado o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), a Delegacia da Mulher, o CSF e o Disque 180.
A execução das oficinas possibilitaram momentos de trocas de aprendizagens de grande importância para os envolvidos. Foram cinco momentos, em que cada um possibilitou novos olhares, conhecer casos e debater um assunto tão presente na realidade dos territórios.
Percebeu-se que os profissionais e as participantes do grupo tem consciência das consequências que a violência doméstica provoca nas mulheres, mas que ainda é algo naturalizado e justificado. Ressalta-se a importância de buscar o rompimento com as fronteiras e limites do atendimento tradicional, de se fazer a clínica ampliada, utilizando novas ferramentas de escuta e articulação com as redes de inclusão para novas percepções sobre as necessidades dos usuários, reorganizar a atenção às mulheres que sofrem violência doméstica com um olhar que transcenda a patologia. Como profissionais da saúde que compomos o SUS, é nossa responsabilidade o atendimento à essas mulheres de humanizada e integral, que prevaleça acima de tudo a proteção e garantia de seus direitos.
Diante do que foi apresentado percebe-se que ao longo da história da humanidade a mulher vem sendo vítima de preconceito e fragilidade dos seus direitos. As políticas públicas são uma grande conquista rumo a sua inclusão social, mas é algo a longo prazo, que para terem efetividade necessitam que as pessoas as executem com responsabilidade.
Compreendemos a importância de criarmos novos instrumentos e ferramentas para se organizar a saúde e que possam dar maior resolutividade aos casos de violência doméstica contra a mulher. Essas ferramentas são constituídas tanto de algo material como foi a construção do fluxograma descritor, quanto de tecnologias leves que proporcione a escuta e envolvimento da população, atores que estão na centralidade desse processo. A produção do fluxograma possibilitou a reorganização da atenção às mulheres vítimas de violência doméstica no CSF onde a atividade foi realizada.
Percebemos a importância de disseminação da experiência tendo em vista a urgência de fortalecermos o enfoque de gênero em grupos de mulheres existentes nos nossos territórios de atuação.
Almeja-se que os participantes sejam agentes multiplicadores do conhecimento que construímos coletivamente, que todos possamos nos unir em prol desse grande desafio que é o combate a violência doméstica contra a mulher.