Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Ações Itinerantes de Caps

Oferecer cuidado ampliado de saúde mental na atenção básica, fortalecendo as Equipes de Saúde da Família como porta de entrada da Rede de atenção psicossocial, estimulando as comunidades a tomarem parte do processo de prevenção dos agravos, promoção da saúde e participação efetiva nos cuidados , quebra de preconceito, fortalecimento de vínculos, implantação de espaços de convivência e amabilidades, facilitando a adesão aos tratamentos.
Mirangaba - BA
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Cledson Marlos Pinheiro Sady
cledsonsady@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Prefeitura Municipal de Mirangaba
Resumo afetivo: 

Levar as ações de atenção psicossocial até as equipes de saúde da família e comunidades fomenta a autonomia de cuidado aos usuários e familiares nos seus territórios, facilita a oferta de apoio matricial, auxiliando na estruturação de projetos terapêuticos singulares, implantando espaços de cuidados e amabilidades, especialmente em municípios carentes e com baixa densidade populacional, onde a dificuldade de deslocamento é um fator de descontinuidade do tratamento. Com estas ações regulares os usuários recebem o cuidado necessário em APS no seu território dos profissionais da AB com suporte da equipe do Caps. As prescrições, depois de definido o PTS, nos casos de estabilização de quadro clínico, podem ser realizadas pelo médico da Equipe de Saúde da Família. Os Agentes de Saúde identificam mais facilmente uma crise, interrupção do uso de medicações ou conflitos familiares que possam interferir no resultado dos cuidados oferecidos.

Contexto: 

O município de Mirangaba está localizado na região do Piemonte da Chapada Diamantina, no bioma caatinga, distante 360 km de Salvador. Tendo 18 mil habitantes, com baixa densidade demográfica e nenhuma estrada asfaltado no interior do extenso município. Sua cobertura da estratégia de saúde da família é de 100%, mas, alguns dos sete territórios de ESF distam da sede do município em até 100 km, dificultando o acesso dos portadores de sofrimento psíquico ao Centro de Atenção psicossocial I Mirangaba, localizado na sede. Entre estes territórios, além da distancia e dificuldade de transporte para chegar ao Caps, existem singularidades: um território quilombola em região de serra, outros dois em região de sertão, com baixa densidade demográfica, povoados isolados e sem estrutura de equipamentos sociais, sem incentivo político para manterem tradições culturais, alem de vínculo profissional frágil, sem seletivo ou concurso publico, com alta rotatividade dos diversos profissionais. Assim, as Ações Itinerantes de Caps promovem uma integração da rede de atenção psicossocial ( Raps), oferecendo apoio matricial aos profissionais da AB, especialmente aos ACS ( agentes comunitários de saúde), realizando atendimentos compartilhados,visitas domiciliares, implantando práticas integrativas e complementares, em especial a Terapia Comunitária além de estimularmos a implantação de espaços de convivência e amabilidades onde as comunidades possa preservar a cultura local e fortalecer vínculos, melhorando muito a adesão ao tratamento, a quebra do preconceito, estimulando uma cultura de paz.Evitamos os deslocamentos difíceis e caros para pessoas sem recursos financeiros e oferecemos os mesmos cuidados que o CAPS realiza na sua sede. Transferimos protocolo, adaptamos estratégias de acordo com as características territoriais, fortalecemos a porta de entrada para o cuidado ao portador de sofrimento psíquico.

Motivações: 

A descontinuidade do cuidado tinha um fator marcante: a dificuldade de deslocamento e consequentemente de frequência ao Caps. Com a alta rotatividade dos profissionais nas ESF, especialmente nos territórios mais distantes, os usuários e familiares só eram reconhecido e faziam vínculo com os profissionais do Caps. No meu caso, em particular, atuo no município desde 1993, mas promovo cuidados em atenção psicossocial desde 2005, com um ambulatório de APS e depois coordenando o NASF ( 2009), que fazia o trabalho itinerante em outras áreas, quando eu usava a " Kombe da Terapia Comunitária na AB" para deslocamento, promovendo práticas além da APS. Nos finais de semana e a noite, especialmente as primeiras crises geravam muita dificuldade para serem identificadas e compartilhadas para os serviços de emergência. Com a implantação do Caps, em 2014, conhecendo bem os territórios e os usuários, propus esta ação itinerante de Caps, onde promovemos desde workshops, rodas de conversas, atendimentos individuais, atendimentos compartilhados, grupos terapêuticos, visitas domiciliares, mas, especialmente, compartilhamos a estruturação do fluxo e da rede de cuidados em saúde mental no município, quando não temos casos de internações em unidades psiquiátricas, e raramento utilizamos hospital geral, pois estamos sempre muito próximos aos usuários e suas rotinas de vida.

Parcerias: 

O Centro de Atenção psicossocial I Mirangaba coordena a REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (RAPS) do município, contando com apoio e parceria de sete equipes de saúde da família, do Núcleo de Apoio a Saúde da Família ( NASF I Mirangaba), do CRAS e CREAS, e de associações rurais e centros de convivências do município.Nosso público alvo são os portadores de sofrimento psíquico, seus familiares e profissionais de saúde do município.

Objetivo: 
  • Atenção psicossocial
  • Territorialização do cuidado
  • Organizar a Raps e o fluxo em saúde mental tendo a AB como porta de entrada
  • Valorização das singularidades dos territórios
  • Fortalecer a adesão ao tratamento
  • Quebrar preconceito e promover relação de coletividade e amabilidade nas comunidades.
Passo a passo: 

A estratégia da Ação itinerante de Caps foi precedida da experiencia da "Terapia Comunitária na atenção básica", também pensada e implantada por mim em 2009. Não realizamos o que se poderia chamar de " Caos itinerante", pois o objetivo não é realizar atendimentos de Caps nas ESF, mas capacitar os profissionais dos territórios a reconhecerem as demandas, acompanharem os PTS, promoverem atividades de suporte aos cuidados que os usuários necessitem, nas ausência dos especialistas, junto com os familiares e comunidade. Fazemos um cronograma onde vamos aos territórios a cada 15 dias, levando os prontuários de todos os usuários vinculados aquela ESF, deixando que a equipe escolha os casos mais complexos para discutirmos e atendermos compartilhadamente. O nosso psiquiatra não vai nestas ações, quando o profissional médico da UBS faz as prescrições necessárias, de acordo com a proposta de tratamento já realizada no Projeto terapêutico singular. Paralelo as consultas compartilhadas realizamos: pós consultas, acolhimento grupal, rodas de conversas temáticas, orientação para implantação de centros de convivência, visitas domiciliares compartilhadas, suporte para adesão ao tratamento, etc.

Efeitos e resultados: 

Temos 346 usuários admitidos no Caps I Mirangaba, sendo que apenas os que residem na sede do município ( 20%) participam de acolhimentos diurnos e grupos terapêuticos no Caps. No total temos aproximadamente 800 usuários não admitidos no Caps, recebendo cuidados nos seus territórios, das ESF, com apoio das Ações Itinerantes de Caps. Todos os atendimentos são contra referenciados para as ESF, que tem todas as informações do PTS de cada usuário. Depois das Ações Itinerantes de Caps (2016)nossos profissionais da AB não compartilham mais usuários sem terem iniciado um PTS e não tem o receio que tinham antes da realização destas ações. Nossos usuários não são mais encaminhados para serviços de psiquiatria para internamentos, nem em crise psiquiátrica, quando geralmente realizamos as ações no território.As práticas de convivência e terapêuticas são realizadas nos territórios. Os familiares participam muito mais do processo de cuidado, sem o estigma de irem para " aquele lugar onde só vão os loucos".