Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Projeto Chi Gong um relato de experiência das práticas integrativas complementares

Trata-se de uma proposta do uso do Chi Gong como uma abordagem de promoção de saúde que buscou a integralidade e socialização entre usuários. 
Divinópolis - MG
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Patrícia Aparecida Tavares, Thais Juliane Moreira, Aline Ramos Pereira, Lorena Aparecida Silveira, Viviane Gontijo Augusto
vivianeaugusto2013@gmail.com
Instituições vinculadas: 
UEMG- Universidade do Estado de Minas Gerais e Secretaria Municipal de Saúde
Resumo afetivo: 

O projeto foi desenvolvido por dois anos consecutivos, os usuários aderiram ao programa e demonstraram interesse em continuar a prática, que teve de ser interrompida por questões acadêmicas. O Chi Gong é uma prática que facilita o despertar e a rotina de autocuidado em grupo de forma harmoniosa, o relato dos participantes são de melhora na autopercepção de saúde e de bem-estar

Contexto: 

Mesmo antes da publicação da PNPIC em 2006, muitas práticas complementares à saúde já eram utilizadas por diversos municípios e estados brasileiros. Deve-se ressaltar que estas Práticas Integrativas Complementares (PIC) diferenciam-se das atividades físicas chamadas de “hard” praticadas normalmente em academias, ou mesmo em locais abertos, em dois aspectos principais. A primeira diferença é no objetivo do resultado esperado pela busca da atividade, onde na primeira o resultado esperado é a saúde e o equilíbrio entre o corpo e a mente e na segunda o resultado esperado é estritamente estético. A outra diferença são as relações sociais em volta destas práticas já que "a busca pelo corpo perfeito" é busca individual e relações sociáveis de cooperação se existem, são desconhecidas. Por outro lado, as PIC’s buscam a cooperação e as relações sociais são mais próximas (LUZ, PINHEIRO E MATTOS, 2001). 

Entre as PIC’s destacam-se a Homeopatia, Fitoterapia, Medicina Antroposófica e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Entre as técnicas da MTC, reconhecidas e preconizadas pelo Ministério da Saúde como práticas complementares a saúde estão a Acupuntura, Reiki, Liang Gong e o Chi Gong. O Chi Gong tem sido cada vez mais utilizado na saúde pública devido aos benefícios para a qualidade de vida dos pacientes (FRANCO E LIVRAMENTO, 2010; LOBO E RIBAS, 2012, ABBOTT E LAVRETSKY, 2013). Esses exercícios podem ser classificados em Chi Gong marcial e Chi Gong terapêutico. O Chi Gong terapêutico que tem a função de equilibrar corpo, mente e emoção, pois quaisquer distúrbios físico, emocional ou mental causam formações de congestionamentos energéticos (SANDER, 1996; LANSINGER et al., 2007).

Motivações: 

As PICS são alternativas úteis na busca de formas efetivas para o novo perfil epidemiológico de saúde, onde há uma prevalência de doenças crônicas gerando um desafio para saúde pública. Problemas crônicos necessitam de práticas educativas de autocuidado e de acompanhamento longitudinal, assim a proposta da prática do Chi Gong pode ser uma ferramenta útil no enfrentamento deste desafio. O Chi Gong tem a função de equilibrar corpo, mente e emoção, adequando a energia vital para prevenir ou minimizar doenças. São exercícios executados de forma suave, lenta e rítmica, que não levam ao desgaste dos praticantes, além de facilitar o autopercepção.

Parcerias: 

O projeto foi desenvolvido a partir de uma parceria entre a Universidade e a Secretaria Municipal de Saúde, que autorizou a realização das práticas do Chi Gong em duas unidades básicas e concedeu anuência para realização de pesquisa com os dados coletados durante a realização do projeto. O projeto também contou com apoio da FAPEMIG que financiou a pesquisa com bolsa de iniciação científica. 

Objetivo: 

O trabalho teve objetivos atrelados a extensão e a pesquisa.

Objetivos da extensão: 

  • Proporcionar vivência aos alunos no que diz respeito a promoção de saúde com uso das PICs.
  • Divulgar para a comunidade uma forma simples e adequada de trabalhar o equilíbrio energético para promoção de saúde e prevenção de doença.

Objetivos da pesquisa: 

  • Avaliar o impacto da prática do Chi Gong na percepção da saúde e na incapacidade funcional de participantes do projeto de extensão.
Passo a passo: 

O projeto de extensão ocorreu em duas unidades básicas de saúde do município durante dois anos consecutivos. A população adscrita à unidade foi convidada a participar por meio de cartazes afixados nas unidades e igrejas locais. Podiam participar pessoas acima de 18 anos que não necessitassem de ajuda para executar os exercícios. Os participantes foram submetidos a um protocolo de avaliação, após a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que continha dados sociodemográficos, de autopercepção de saúde e funcionalidade. As atividades ocorriam 2 vezes por semana eram desenvolvidas pelos universitários sob a supervisão docente. Cada atividade iniciava com 5 minutos de acolhida e introspecção, 45 minutos de exercícios e 15 minutos de conversa e socialização onde os participantes relatavam sobre os efeitos do Chi Gong no seu cotidiano. Ao final de cada sessão os participantes eram incentivados a praticar os exercícios diariamente. Todos receberam um material impresso que continha a descrição dos exercícios.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética da UEMG, sob o parecer 2.086.811/2017. Para a realização das análises relativas a pesquisa o protocolo de avaliação foi replicado 3 e 6 meses após o início das atividades, com intuito de captar os efeitos da prática na autopercepção de saúde e capacidade funcional.

Para avaliar a autopercepção foi utilizado uma pergunta simples: como você classifica o seu estado de saúde atual? Com quatro opções de respostas ( excelente, boa, regular, ruim).  Para avaliar a capacidade funcional foi utilizado o instrumento proposto pela OMS - World Health Organization Disability Assessment Schedule (WHODAS 2.0). 

Efeitos e resultados: 

A amostra foi composta por 57 participantes, com média de idade 63,7 ± 10,6 anos, sendo que 82,5% eram do sexo feminino, 61,4% da raça branca. Com relação ao estado civil 68,4% eram casados, 70,2% tinham três ou mais filhos e 93% tem moradia própria. No que se refere à escolaridade 61,4% possuem ensino fundamental. A maioria é aposentada 78,8% e dos que ainda trabalham 45,6% tem renda de até um salário mínimo. Quanto ao estilo de vida, observou-se que 68,4% não consomem bebidas alcoólicas e 86,0% não são tabagistas e apenas 21,1 % não praticam atividade física.

Quando comparado o escore médio do WHODAS, antes e após 3 meses de atividade, o teste t de Student para amostra pareada mostrou que não havia diferença entre grupos (t =1,87; p=0,06). No entanto, houve diferença significativa da incapacidade funcional dos praticantes quando comparado os níveis de incapacidade de acordo com o teste Qui-quadrado (X2 = 21,15; p= 0,048).

Observa-se que 66,07% dos participantes mostraram incapacidade leve na primeira avaliação e apenas 3,5% apresentavam incapacidade severa. Na segunda aplicação do questionário houve exclusão do nível de incapacidade severa enquanto que 70,21% apresentaram incapacidade leve.

Na análise do Qui-quadrado, após 3 meses de prática do Chi Gong os participantes apresentaram redução significativa do desconforto físico (X2 =4,67; p= 0,031) e uma melhora significativa na percepção do estado geral de saúde (X2 = 17,76; p= 0,007) .O nível de incapacidade funcional não se associou nem com percepção de saúde (X2 = 12,9; p= 0,16) nem com queixa de desconforto (X2 =.1,41; p= 0,70).

Ressalta-se aqui que a incorporação das PIC’s no Brasil veio como repercussão da desigualdade e exclusão sociais crescentes, além de pouco investimento em políticas públicas eficazes, mas o crescimento e a permanência destas práticas não foram restritas a estes fatores. As práticas integrativas inauguraram, no campo da saúde do mundo ocidental, um período de coexistência de diversas culturas de saúde. Assim a busca de novas terapias é parte de um movimento de resgate de valores que podem ser compreendidas como tentativa de solucionar problemas intrínsecos e complexos do campo da saúde (SOUZA E LUZ, 2009). Entre estes valores destaca-se a importância da educação em saúde, do foco nas necessidades do paciente e o estímulo para o auto- cuidado.

Apesar dos achados positivos algumas limitações do estudo interferiram na análise metodológica. Como a prática do Chi Gong já era realizada há mais tempo no projeto de extensão houve um número pequeno de novos participantes que puderam ser incluídos no estudo. Também houve uma redução da amostra devido às faltas frequentes. A análise da amostra se deu através de questionários autoaplicáveis sobre o estado de saúde o que gerou dificuldade ao responder as questões sobre incapacidade e percepção de saúde devido a baixa escolaridade da amostra. Isto pode ter interferido nos resultados encontrados.

O Chi Gong é uma prática integrativa complementar que traz benefícios para a promoção de saúde da população contribuindo para redução de incapacidade funcional e desconfortos físicos, além de permitir melhora do auto percepção geral de saúde.