Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Transdisciplinaridade, Arte/ Cultura e Saúde Mental: fundamentação e aplicação de práticas híbridas inovadoras na promoção da Saúde Mental na Atenção Básica

Atuar transdisciplinarmente na AB, com o uso de estratégias da arte/cultura, pode facilitar a aprendizagem em saúde e ampliar a adesão aos grupos terapêuticos e o cuidado em saúde mental.
Eunápolis - BA
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Autor: Marilia Martins De Araujo Reis Co-Autor: Vanuza Vieira Muniz Rodrigues
mariliaamarilis@hotmail.com
Instituições vinculadas: 
Unidades Básicas De Saúde Dos Bairros Juca Rosa, Alecrim I, Alecrim Ii, Rosa Neto, Urbis I e Ii, Moisés Reis e Sapucaeira; Prefeitura Municipal de Eunápolis- Secretaria de Saúde - Departamento de Atenção Básica - Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)
Resumo afetivo: 

O aumento da expressão do sofrimento psíquico, do surgimento e agravamento de doenças mentais e físicas é notório e preocupante em nossos territórios, bem como a dificuldade de reter informação acerca destes quadros e dos autocuidados necessários em saúde por parte dos usuários. A pouca conscientização/ sensibilização acerca da importância dos cuidados preventivos e secundários em Saúde Física e Mental também é um desafio cotidiano frente à comunidade. Tal situação inquietante, impulsionou profissionais do NASF a sugerirem a utilização de estratégias não convencionais -elementos da arte/ cultura - para estimular e facilitar a aprendizagem e a prática de autocuidados, e simultaneamente, cuidar do bem-estar psíquico dos participantes dos grupos terapêuticos utilizando recursos lúdicos. Foi empolgante e visível a ampliação da adesão aos grupos terapêuticos, melhorias no aprendizado e na continuidade dos cuidados, como nos casos de hiperdia, gestantes e pessoas com sofrimento mental.

Contexto: 

Trabalhar em territórios vulneráveis implica em estar consciente das iniquidades sociais, culturais e econômicas presentes nestes contextos, o que implica muitas vezes em dificuldades na compreensão e importância da priorização dos autocuidados em saúde física e mental, bem como na adesão aos tratamentos e em ações de prevenção. A ausência de uma cultura de atenção ao bem-estar psíquico vulnerabiliza ainda mais os sujeitos, que podem ter seus quadros agravados devido sua condição de sofrimento psicossocial. As dificuldades nas condições de trabalho dos profissionais em saúde, a precarização dos vínculos, por sua vez, dificulta também a continuidade do cuidado. Eunápolis é um município tipicamente comercial e agropecuário do extemos sul baiano, que conta com mais de 112.000 habitantes, 02 PACS, 01 UBS Centro e 30 Equipes de Saúde da Família (ESF) em 21 estruturas de Equipes de Saúde da Família. Com a implantação de fábrica multinacional, teve crescimento populacional através da migração, bem como dos problemas socioeconômicos. A Bahia, porém, é conhecida pelo seu potencial criativo, dotada de uma cultura rica em elementos lúdicos que ampliam a capacidade de resiliência e de cultivo de ações diversas na busca de soluções. Utilizar elementos de arte/ cultura no processo de Educação permanente em saúde dos grupos terapêuticos coordenados pelo NASF Juca Rosa, possibilitou um ambiente mais acolhedor e estimulante para o aprendizado, bem como proporcionou um espaço lúdico para alívio do sofrimento psíquico que acompanha os usuários em situações vulneráveis. A cultura pode produzir doenças, mas também abriga caminhos de cuidado. O uso do teatro e do artesanato como recursos de aprendizagem facilitou a fixação de conteúdos por associação ao tema, verificando-se a compreensão dos participantes sempre ao final das ações. Também observou-se o aumento da apreensão dos modos de autocuidado, ampliando a frequência nos grupos terapêuticos. As rodas de Terapia Comunitária Integrativa, com o uso da música, poesia e outros recursos da cultura, estimulou a solidariedade e o cuidado compartilhado, fortalecendo o vínculo com as equipes NASF e ESF, e firmando espaços de referência em cuidado transdisciplinar nos territórios.

Motivações: 

A proposta das práticas transdisciplinares com o uso de recursos da arte/ cultura nos grupos terapêuticos do NASF surge da evasão crescente na participação dos grupos terapêuticos e da baixa adesão aos cuidado continuados, da demanda crescente de sofrimento psíquico e adoecimento mental no município, com espaços proporcionalmente insuficientes de cuidado primário e secundário em saúde mental para as necessidades dos territórios. Tal situação gerou angústia, inquietação e sentimento de impotência em alguns profissionais da equipe que, diante dos limites, experimentou utilizar a criatividade como recurso para ampliar o cuidado. Estas inquietações levaram a profissional psicóloga do NASF a desenvolver uma pesquisa como Trabalho de Conclusão de Curso em Pós-graduação em Estudos Transdisciplinares em Cultura (UNEB), focalizando a fundamentação da práticas da arte/ cultura nos cuidados em saúde/ saúde mental. A Atenção Primária, além de porta de entrada para o Sistema Único de Saúde, em seu papel primordial de prevenção e promoção à saúde física e mental da comunidade, prevê em seus Cadernos de Atenção Básica Nº 34 e 39, o uso de estratégias transdisciplinares, criativas e coletivas para suas ações, envolvendo as equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), bem como as ações interdisciplinares nos territórios e em rede para o desenvolvimento destes cuidados. Tais fundamentos fortaleceram a iniciativa das práticas com o uso da arte/ cultura.

Parcerias: 

As Equipes de Saúde da Família, principalmente os agentes comunitários de saúde, foram fundamentais para mobilizar os participantes. Apesar do caráter aberto dos grupos terapêuticos denominados Qualidade de Vida e Terapia Comunitária Integrativa, havia também o grupo de gestantes, bem como uma necessidade maior de atender aos usuários hiperdia (com hipertensão e/ ou diabetes), com dificuldades de adesão/ continuidade ao tratamento, e usuários com sofrimento psíquico mais expresso, como familiares de usuários dos Centros de Atenção Psicossocial. Mediante interação com o Conselho Municipal de Políticas Culturais, conseguiu-se inserir em seus documentos norteadores, item que enfatiza a necessidade de ações intersetoriais, transdisciplinares, incluindo a saúde, ampliando seu escopo de ações.

Objetivo: 
  • Desenvolver ações de prevenção e promoção da saúde integral (fisica, mental) da Comunidade através de estratégias em arte/ cultura como estratégia de educação permanente e ampliação da adesão aos cuidados.
  • Fortalecer vínculos entre usuários, Atenção Básica - ESFs equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Saúde Mental, Cultura e território- intersetor, ampliando o cuidado em rede, e promovendo alívio ao sofrimento psíquico dos usuários.
  • Facilitar o desenvolvimento de atuações profissionais menos fragmentadas, com visão integral do sujeito.
     
Passo a passo: 

1 - Estudo de documentos produzidos pelo Ministério da Saúde que fundamentam as práticas de arte/ cultura nos cuidados em Saúde/ Saúde Mental. Tal estudo amenizou possíveis resistências e críticas a práticas não convencionais aos ambientes de cuidado em saúde nos territórios - Unidades Básicas de Saúde.
2 - Mobilização das ESF e intersetor para sensibilização e desenvolvimento da proposta das ações transdiscilinares.
3 - Levantamento de recursos materiais para convites, artesanato, teatro e rodas de Terapia Comunitária Integrativa.
4 - Agendamento mensal no cronograma de ações do NASF/ AB.
 

Efeitos e resultados: 

Após as ações, foi possível observar melhorias na frequência (adesão e participação) nos grupos terapêuticos, bem como maior facilitação da aprendizagem em saúde, após verificação com perguntas e demonstrações executadas pelos participantes. 

Também foram evidenciadas melhorias nos resultados terapêuticos dos grupos do NASF nas UBS em que foram inseridas as práticas de arte/ cultura, com relatos favoráveis dos usuários, ficado expresso o alívio do sofrimento psíquico dos participantes (depressão, ansiedade etc.), bem como melhora da autoestima. A satisfação dos profissionais das equipes participantes - ESF e NASF - também foi evidenciada.

É relevante ressaltar a importância da abertura de caminhos para práticas inovadoras que favoreçam a saúde física e mental, o trabalho em rede e a parceria Saúde – Cultura, quebrando alguns paradigmas, em benefício dos usuários e comunidade em geral.
 

Conte um pouco mais: 

Este trabalho foi selecionado e destacado no COSEMS Norte – Nordeste em 2017. Também selecionado e apresentado no CONASEMS – 2017, sob a forma do "Cordel das Práticas Híbridas". Foi selecionado e apresentado na "II Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas na Bahia - Fazeres profissionais e resistência nos territórios", em 2018.