Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Terapia Comunitária Integrativa como prática de cuidado no SUS em Cuiabá, Mato Grosso

O cuidado começa pela escuta qualificada: expressar os (re) sentimentos, sem medo de julgamento, é o primeiro passo para se libertar das aflições.
Cuiabá - MT
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Marta de Lima Castro; Patricia Auxiliadora Aponte Ribeiro; Nilva Maria Fernades de Campos
martafarm@hotmail.com
Instituições vinculadas: 
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Cuiabá e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Resumo afetivo: 

A nossa capacidade de acolher, escutar, falar e respeitar os sentimentos das pessoas, com amorosidade, é uma potente ferramenta capaz de atingir os níveis físico, mental, espiritual e social no cuidado em saúde.

 

Contexto: 

Trata-se de um trabalho realizado sobre a implantação e oferta da TCI na URPICs de Cuiabá, utilizando a metodologia da História Oral e Pesquisa Participativa, tendo como atores os terapeutas de TCI atuantes e o responsável técnico desta unidade.

Motivações: 

O trabalho sobre a História Oral da TCI em Cuiabá foi realizado na URPICS que fica localizada no Horto Florestal Tote Garcia, local pioneiro no desenvolvimento das rodas de TCI no município de Cuiabá-MT. Tais rodas são realizadas todas as sextas-feiras, após um café da manhã compartilhado, a participação é de livre demanda. Elas são desenvolvidas nesse espaço desde 2014.

As pessoas que frequentam a TCI na URPICS são dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande. Atualmente a URPICS é o único local a fornecer esta terapia pelo SUS. Em novembro de 2019 iniciará uma turma de formação de terapeutas, voltada para os trabalhadores da Atenção Básica (AB) e da rede de atenção psicossocial, a fim de propiciar outros pontos de oferta da TCI

Segundo informações contidas no site oficial da Prefeitura de Cuiabá, o Horto está vinculado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano da cidade de Cuiabá-MT. É uma área pública, utilizada para o desenvolvimento de pesquisas, para a produção de mudas para arborização da cidade, para o desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental e para o lazer da população, estando localizado na zona sul da cidade, possui uma área aproximada de 15 hectares.

A TCI consiste em uma tecnologia leve de cuidado a saúde, focada no acolhimento e na escuta qualificada, pode ser desenvolvida em qualquer espaço comunitário que permita a interação entre os participantes. No caso da URPICS, o ambiente de trabalho localiza-se sob diversas árvores e é cercado por uma grande diversidade de espécies da fauna e da flora.

Tal prática tem se mostrado viável ao cuidado das pessoas, principalmente aquelas com sofrimentos psicológicos (depressão, ansiedade, síndrome do pânico, entre tantas outras). Os custos necessários para o desenvolvimento dessa prática de cuidado são baixos, em relação à abrangência que o impacto que a roda pode ter na vida e saúde dos participantes.

Parcerias: 

A oferta da roda de TCI no SUS de Cuiabá iniciou em 2014 da parceira realizada entre UFMT e SMS; a universidade realiza a parte prática da formação em TCI no espaço da URPICS.

Após o término do projeto, a SMS decide manter a TCI como uma das práticas ofertadas na URPICS e investe na formação dos seus trabalhadores.

Em 2016, por meio do projeto PET/GraduaSUS (SEGT/MS/UFMT/SMS), ocorreu a parceria UFMT-SMS, tendo na URPICS um dos espaços de vivências das alunas do Curso de graduação em Saúde Coletiva. Além da Semana de PICs que teve como principal objetivo sensibilizar os Trabalhadores da Atenção Básica de Cuiabá sobre as PICs oferecidas na URPICS, essa parceria resultou em um trabalho da história oral da TCI no SUS de Cuiabá.

Objetivo: 
  • Descrever o surgimento da TCI no SUS de Cuiabá.
  • Levantar a potencialidade e os desafios da TCI como forma de Cuidado no SUS de Cuiabá.

 

 

Passo a passo: 

Para a construção da história oral foram realizados os passos descritos por Carvalho Et al. (2013):

1. Transcrição – etapa em que a gravação oral das narrativas são descritas na linguagem escrita;

2. Textualização – Momento de definição de palavras-chave para mostrar a incidência das ênfases dadas em determinados momentos, representando o tom vital das narrativas;

3. Transcriação – com o desfecho do texto, a sua versão final;

4. Conferência – momento em que, depois de todo trabalhado, o texto é entregue aos colaboradores (participantes) para que seja ratificada ou não a sua conformidade, conferindo confiabilidade ao material e à pesquisa.

As rodas são realizadas em seis etapas, conforme sistematizado por Adalberto Barreto: acolhimento; escolha do tema; contextualização; problematização; rituais de agregação; e conotação positiva e apreciação da condução da terapia.

 

Efeitos e resultados: 

As vivências nas rodas de TCI propiciaram compreendê-la como um processo democrático de cuidado, pautado nos princípios do diálogo, da amorosidade e da problematização, no qual os participantes vão se reconhecendo no outro e construindo vínculos de confiança para expressar suas angústias e emoções, sendo fundamental para isso o posicionamento de não julgamento das narrativas.

A TCI tem atuado como a primeira opção de cuidados em saúde na URPICs; a participação na roda permite as pessoas conhecerem o espaço, a proposta de outras PICS, além de estimular o autocuidado, pois permite aos participantes perceberem que, ao incorporarem as orientações da roda no seu cotidiano, isso reverberará positivamente na vida das pessoas a sua volta.

A construção da história oral da TCI no SUS de Cuiabá demonstrou que a oferta dessa tecnologia de cuidado iniciou no período de 2013/2014. O processo de oferta da TCI como uma prática de cuidado no SUS decorreu da parceria exitosa ensino-serviço, proveniente de um projeto de extensão, com a UFMT, demonstrando assim a potencialidade dessa parceria impactar positivamente a qualidade de vida e a saúde da comunidade. Cabe ressaltar que, posteriormente à experiência da aplicação da TCI pela UFMT, o serviço se organizou, contratando terapeutas e/ou formando trabalhadores da SMS para sua implementação contínua na URPICS, fato este que ocorreu em 22 de agosto de 2014.

Ao analisar o perfil dos terapeutas e suas narrativas percebe-se que a TCI, assim como as demais PICS, vem se tornado uma realidade no rol de cuidados em saúde de Cuiabá graças ao protagonismo dos trabalhadores da saúde, que realizam parcerias com as universidades, com a Associação Nacional de Educação Popular em Saúde (ANPS) e com outros segmentos da sociedade para apresentar e propiciar outras possibilidades do cuidado em saúde, que não exclusivamente a biomédica.

Dentre os principais desafios na consolidação e expansão da TCI no SUS de Cuiabá estão:

1- Sensibilização dos Gestores;

2- ampliação das TCI para outros locais;

3- Oferta de mais cursos de formação;

4- Manutenção dos terapeutas formados no SUS;

5- divulgação e desmitificação (estigmatização).

A implantação da TCI na URPICS resultou em um espaço de acolhimento, compartilhamento e ressignificação baseado na escuta qualificada das experiências da comunidade com o intuito reduzir o sofrimento e promover o cuidado e o autocuidado. Nossa sugestão é que essa terapia se estenda a outros espaços (outros pontos de atenção a saúde, com a saúde do trabalhador, nas escolas, em grupos de pessoas com doenças crônicas, etc.).