Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Estágio interprofissional de uma universidade pública visando promoção da saúde e prevenção às violências na escola e comunidade

A Promoção da Saúde e a Prevenção de Violências nas escolas pode contribuir com a formação de protagonistas e facilitadores que visem ações sociais capazes de inferir na realidade do cotidiano social e portanto, aposta-se no fortalecimento da participação social como enfrentamento das questões sociais.
Paranoá - DF
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Andreia Lohane Resende Simplicio, Sara da Silva Meneses, Ana Carolina Boquadi, Isabella Kahn Telles, Dais Gonçalves Rocha, Sheila Murta, Anna Caroline Ribeiro, Raquel Turci
Resumo afetivo: 

A experiência de atuar no ambiente escolar visando articular ensino-serviço-comunidade na promoção da saúde e prevenção às violências possui desafios diversos e tem como princípio a educação entre os pares como forma de qualificação e fortalecimento da autonomia dos sujeitos. No entanto, a maior das reflexões é o papel que cada um dos atores envolvidos possuem nesse processo de enfrentamento das violências estruturais. Estas decorrem das micro e macro relações que reproduzem a lógica de uma estrutura violenta de forma naturalizada na sociedade brasileira. Assim, as transformações culturais se renovam conjuntamente com as gerações que seguem a lógica da vida. A juventude se coloca enquanto protagonista do enfrentamento de questões sociais e é por isto, que a escola se torna um espaço de privilégio pra discutir violências e promover saúde. Diria que a defesa dos direitos sociais se fortalece quando a participação social da juventude está fortalecida também mediante a construção de identidades que compreendem as diversidades da existência como um direito de equidade social.

Contexto: 

O Informativo Epidemiológico “Violência Interprofissional/Provocada”, as Regiões Administrativas do Paranoá e Itapoã, compreendem 10,1% da totalidade de violências notificadas no Distrito Federal-DF. As violências produzem efeitos físicos e psicológicos nos sujeitos e nas famílias, podendo ter suas consequências perpetuadas desde as fases de infância e adolescência e tendo impactos na fase adulta.Sendo identificada como local de privilégio, a escola desempenha um papel fundamental na integração da rede proteção e atenção à saúde com a escola e a comunidade.

Considerando isso, a Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o PAV GIRASSOL (Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência - Paranoá) e com a coordenação do Programa Saúde na Escola buscou a implementar a ação no Centro Educacional Darcy Ribeiro - Paranoá, local de prática do Estágio.

A construção deste Estágio deu-se na parceria do GRADUA-SUS (Programa de Ensino Tutorial em Saúde, inserido no SIESCO - Sistema de Integração Ensino-Serviço-comunidade) com o PAV GIRASSOL para o desenvolvimento de habilidades, visando o trabalho em equipe interprofissional.

Motivações: 

A partir do levantamento de dados de situação local, realizado em estágio de graduandos UnB, identificou-se que adolescentes em situação de violência indicavam a escola como um local privilegiado para integrar a rede de proteção e atenção à saúde. Assim, uma Escola de Ensino Fundamental e Médio do Paranoá-DF se tornou o local de prática deste Estágio, buscando potencializar este local como um mecanismo de proteção, articulando-o com a rede de proteção da região.

Deste modo, o estágio teve como objetivo desenvolver habilidades interprofissionais e competências nas ações de educação e promoção da saúde, a partir da parceria ensino-serviço-comunidade, de março a dezembro de 2017.

Destarte, a origem do projeto advém de uma demanda social captada nas escolas do Paranoá (DF) e pretende contribuir com a articulação intersetorial das redes formais e informais do território.

 

Parcerias: 

Dentre as várias Redes de Atenção existentes no Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção à violência consiste em uma rede que exige ações intersetoriais articuladas. O PAV Girassol - Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência (SES-DF), em parceria com o programa de ensino tutorial em Saúde (GRADUA-SUS), inserido no SIESCO (Sistema de Integração Ensino-Serviço-Comunidade) da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, atuaram em conjunto na construção deste.

A interprofissionalidade pode ser descrita como a capacidade de atuação em equipe de saúde de forma articulada, reflexiva e dialógica, voltada para a resolução de problemas e negociação de processos decisórios entre os vários saberes, a partir da construção coletiva do conhecimento, esta que só se dá com respeito a cada saber que compõe o serviço/equipe. A equipe obteve a contribuição de estagiárias e estagiários da UnB; estudantes de Saúde Coletiva, Serviço Social, Psicologia e Farmácia. As preceptoras do estágio são profissionais do Programa Girassol do PAV, uma Assistente Social e uma Psicóloga- estas que atuam na Região Leste. As supervisões pela instituição de ensino ficaram sob a responsabilidade das Professoras e estudante do programa de pós graduação (doutorado) das áreas de Saúde Coletiva, Farmácia e Psicologia.

 

Objetivo: 

Objetivo Geral: Desenvolver ações de educação e promoção da saúde, com enfoque na promoção da cultura de paz e prevenção às violências a partir da parceria ensino-comunidade.

Objetivos específicos:

  • Contribuir para o fortalecimento da rede de proteção a crianças e adolescentes;
  • Fortalecer o PAV Girassol - Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência como centro de atendimentos às vítimas e seus familiares na região;
  • Fortalecer vínculos entre professores e estudantes da rede pública do Paranoá.
  • Desenvolver habilidades interprofissionais e competências nas ações de educação e promoção da saúde, a partir da parceria ensino-serviço-comunidade
Passo a passo: 

Foram realizadas Oficinas com 20 professores e 95 alunos no ano de 2017, com enfoque na educação permanente para a promoção da Cultura de Paz e Prevenção de Violências..
A pesquisa-ação foi assumida como referencial teórico de compreensão e avaliação da experiência, visando o reconhecimento dos determinantes sociais da violência para contribuição com as transformações da realidade social envolvida.

A metodologia adotada para a intervenção na escola se deu a partir do Arco de Maguerez, que de forma problematizadora e dialógica, visou a inclusão das necessidades locais e dos diferentes sujeitos de forma colaborativa na construção da intervenção para prevenção às violências. O Arco de Maguerez possui como etapas: - a observação da realidade, pontos chaves, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade. Considerou-se em todas as etapas a gestão participativa de todos os envolvidos na tomada de decisões, enfatizando a autonomia do sujeito como agente de sua própria transformação social.

A pesquisa-ação produz conhecimento enquanto intervém na realidade, assim o sujeito estagiário-pesquisador também foi ator, assim como os sujeitos professores-pesquisados foram produtores de conhecimento, voltando as oficinas para o exercício de reflexão, autonomia e pensamento crítico. Neste relato de experiência será enfatizada a intervenção com os Professores da Escola, que se caracterizou como educação permanente, advinda da necessidade de se trabalhar com esses profissionais a capacidade de promover cotidianamente o enfrentamento das violências no ambiente escolar e para além desta, a capacidade de responder de forma não-violenta às demandas diárias dos educandos.

Assim em um ano de intervenção com as e os 20 Professores, realizou-se oficinas, com estratégias interativas e reflexivas diversificadas (contação de histórias, Dinâmicas, Desenho, caixa lúdica, Linha do tempo, Mapeamento da Rede de Serviços, etc.) favorecendo a vivência de metodologias ativas de aprendizagem, com as seguintes temáticas ao longo do ano de 2017

Oficina 1 – Violência nas escolas;
Oficina 2 – Violência de gênero e raça;
Oficina 3 –Violências na Escola: tipologias
Oficina 4 –Discussão de caso e fluxo de cuidado em rede;
Oficina 5 – Redes de proteção social local: Ecomapa
Oficina 6- Prevenção e enfrentamento a Auto-mutilação (cutting) e suicídio.Oficina 7– Sensibilização e Criatividade;
Oficina 8 –Temas Transversais da Educação e a interface com a Violência;
Oficina 9 - Prevenção a Violência no Namoro;
Oficina 10- Avaliação do percurso e encerramento anual.

Para a preparação das atividades nas escolas os e as estagiárias desenvolveram uma rotina de Educação continuada a partir reuniões de planejamento com discussões teóricas e supervisão interprofissional sobre as temáticas que emergiram das práticas.A partir do arcabouço teórico da Pesquisa-Ação as estagiárias produziram Diários de Itinerários sobre todas as ações realizadas, a partir dos quais foi possível avaliar qualitativamente os resultados alcançados pelo Estágio.

Efeitos e resultados: 

Dentre os principais resultados obtidos destacam-se que os encontros na escola serviram como espaço de fala e escuta tendo um potencial terapêutico para os professores; as oficinas ofereceram espaço de educação permanente dos professores para abordagem dos diferentes tipos de violência de forma transversal, curricular e afetiva; além do fortalecimento entre professores e estudantes na perspectiva da educação problematizadora; o fortalecimento de vínculos (UnB – PAV Girassol – Escola) e reconhecimento da Rede de Proteção/Responsabilização em situação de violência.

Para as estagiárias destacam-se a construção de habilidades cognitivas e atitudinais, o desenvolvimento do trabalho em equipe, comunicação em saúde, capacidade de análise institucional e de contexto dos determinantes sociais de saúde, liderança e a incorporação de metodologias interativas no cotidiano dos setores da saúde e da educação. Configurando dessa forma a vivência da interprofissionalidade no trabalho em promoção e prevenção em saúde.

Considera-se que as e os professores têm conseguido transversalizar a temática da violência e assim inseri-la no currículo escolar tornando-a parte não só das queixas cotidianas, mas problematizando-a e refletindo sobre formas de preveni-la e promover uma cultura de paz. Um exemplo disto, foi a escolha feita pelos professores da temática ‘Violência’ ser trabalhada na Avaliação Interdisciplinar de todas as turmas da Escola. Assim como, a interprofissionalidade tem sido alcançada a partir de uma prática reflexiva e adequada às necessidades locais promovida pela ação conjunta dos atores. A ferramenta Arco de Maguerez se mostrou efetiva na sensibilização e reconhecimento das violências por parte das e dos Professores da Escola.

Aponta-se a necessidade de articulação em rede entre a Escola e o serviço PAV-Girassol, assim como maior instrumentalização da Escola sobre a atuação preventiva e interventiva em situações de violências. Para o Estágio aponta-se a necessidade de ampliação de estagiárias e estagiários de outras áreas da saúde.

 

Conte um pouco mais: 

1.Introdução
O Informativo Epidemiológico “Violência Interprofissional/Provocada”, as Regiões Administrativas do Paranoá e Itapoã, compreendem 10,1% da totalidade de violências notificadas no Distrito Federal-DF.

As violências produzem efeitos físicos e psicológicos nos sujeitos e nas famílias, podendo ter suas consequências perpetuadas desde as fases de infância e adolescência e tendo impactos na fase adulta.

Sendo identificada como local de privilégio, a escola desempenha um papel fundamental na integração da rede proteção e atenção à saúde com a escola e a comunidade.

Considerando isso, a Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o PAV GIRASSOL (Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência - Paranoá) e com a coordenação do Programa Saúde na Escola buscou a implementar a ação no Centro Educacional Darcy Ribeiro - Paranoá, local de prática do Estágio.

A construção deste Estágio deu-se na parceria do GRADUA-SUS (Programa de Ensino Tutorial em Saúde, inserido no SIESCO - Sistema de Integração Ensino-Serviço-comunidade) com o PAV GIRASSOL para o desenvolvimento de habilidades, visando o trabalho em equipe interprofissional.

2.1 Objetivos
Desenvolver ações de educação e promoção da saúde, com enfoque na promoção da cultura de paz e prevenção às violências a partir da parceria ensino-comunidade.

2.2 Objetivos específicos
- Contribuir para o fortalecimento da rede de proteção a crianças e adolescentes;
- Fortalecer o PAV Girassol - Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à
Violência como centro de atendimentos às vítimas e seus familiares na região;
- Fortalecer vínculos entre professores e estudantes da rede pública do Paranoá

3. Métodos
Semanalmente, às quartas-feiras, foram realizados encontros de formação dos estagiários e de educação permanente das preceptoras para alinhamento conceitual e metodológico e com leituras de textos direcionados aos objetivos do estágio e atuação dos estagiários na escola. Quinzenalmente nas Terças feiras,os estagiários entravam nas sala de aula, para aplicar o conteúdo de violência dentro do currículo escolar da disciplina, as perceptoras sempre procuraram acompanhar todos os planejamentos, dando idéias de como melhor desenvolver as atividades. Dessa maneira, os planejamentos eram elaborados diariamente de acordo com as necessidades dos alunos, com atividades lúdicas e roda de conversas. A abordagem metodológica participativa, foi escolhida para ser trabalhada em sala de aula utilizando os passos do Arco de Maguerez. Os resultados foram muito positivos com a participação ativa de toda a turma, e sempre contando com o apoio da professora regente que nos deixou muito tranqüila e à vontade em realizar as atividades com os alunos.

4. Resultados
4.1 Com os professores

- Fortalecimento de vínculos com os alunos e com a comunidade escolar;
- Educação permanente, auxiliando os profissionais da educação a respeito dos diferentes tipos de violências;
- Espaço da escola possibilitou o diálogo sobre diversos saberes e práticas dentro da sala de aula.
4.2 Com os alunos em sala de aula
- Proporcionar espaços mais comunicativos entre alunos e professores;
- Abordagem sobre os tipos de violências e o mapeamento das violências dentro da sala de aula ;
- Fortalecimento de vínculos.

5. Considerações Finais
A experiência do Estágio interprofissional realizado na escola Darcy Ribeiro-Paranoá foi gratificante e de grande importância para a nossa formação profissional, foi possível por meio desta, introduzir conhecimentos que eram pouco explorados na nossa formação.Todavia, fomos impulsionadas a ampliar nosso olhar sobre a educação e suas práticas inovadoras e criativas, para posteriormente sermos profissionais da saúde que ocupe um lugar de agente de transformações junto com o PAV-Girassol e a comunidade escolar. Mediante a prática desempenhamos o papel de aprendiz dentro de um espaço pouco explorado na nossa graduação, e procuramos com as práticas de educação permanente levar o conhecimento adquirido para a sala de aula, gerando futuros cidadãos críticos e conscientes sobre as práticas de violências e suas consequências.

Referências

  • COSTA, A.M.; PONTES, A.C.R; ROCHA, D.G. Intersetorialidade na produção e promoção da saúde. In: CASTRO, A; MALO, M. (Orgs.). SUS: ressignificando a promoção da saúde. São Paulo: Hucitec, p. 96-115, 2006.
  • CARVALHO, A. I. Princípios e prática da promoção da saúde no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 4-5, jan. 2008.
  • VALADÃO, M. M. Saúde na Escola: um campo em busca de espaço na agenda intersetorial.2004. 154 f. Tese (Doutorado em Serviços de Saúde) Departamento de Prática de SaúdePública, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2004.
  • VASCONCELOS, E. M. Redefinindo as práticas de Saúde a partir de experiências de Educação Popular nos serviços de saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação,Botucatu, v. 5, n. 8, p. 121-126, fev. 2001.