Escola Politecnica Joaquim Venâncio / Fiocruz

Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial

Encontro de Ideias: uma ferramenta coletiva de promoção de desinstitucionalização em um Centro de Convivência e Cultura

Uma via que aposta na força da produção coletiva para a promoção de vida, potência, acessibilidade e intervenção na cidade.
Engenho de Dentro - RJ
  • Campo do Saber
  • Campo de Prática
  • Público Alvo
Autores: 
Fabiane Dias de Mendonça e Letícia Ramos da Silva
fabianediasm@gmail.com; lele.ramos01@gmail.com
Instituições vinculadas: 
Centro de Convivência e Cultura Trilhos do Engenho
Resumo afetivo: 

O Encontro de Ideias é um espaço potente de construção de outros modos de estar na vida. Ele potencializa a relação com os sujeitos, transformando nós trabalhadores no cotidiano do trabalho e promovendo autonomia dos usuários. Essa disponibilidade dos trabalhadores em estar aberto a experiência, ao que será vivenciado no momento do encontro, permite nos afetarmos com os sujeitos e seguir produzindo cuidado que nos permita viver em liberdade. O desafio de seguir apostando nesse trabalho é estar atento a todo momento para a produção de práticas antimanicomiais, que não promovam segregação, silenciamento e enrijecimento das práticas de cuidado. Com isso, permite-nos pensar coletivamente nas apostas em habitar a cidade com o diferente, a partir da possibilidade de cada sujeito e de ressignificar a vivência na cidade. 

Contexto: 

A reforma psiquiátrica na perspectiva antimanicomial tem como pressuposto a produção de cuidado na lógica da desinstitucionalização. A desinstitucionalização é um processo que têm como foco a existência-sofrimento das pessoas e sua relação com a sociedade. Por isso, essa lógica coloca em prática modos de cuidado afinado com a produção de vida que é construída no cotidiano, potencializando o reconhecimento das diversas maneiras de existência dos sujeitos. 

Deste modo, o encontro de ideais está ancorado nessa perspectiva, com o objetivo de produzir modos de cuidado afinados com a autonomia e protagonismo dos participantes do Centro de Convivência, a fim de desconstruir o imaginário social acerca da loucura, a partir das relações que se dão no encontro com o outro, seja os usuários dos serviços de saúde mental, como também outros sujeitos na cidade. 

Motivações: 

 O Encontro de Ideias pode ser compreendido como uma ferramenta que o Centro de Convivência e Cultura utiliza, proporcionando um espaço de (com)vivência e troca entre os participantes desse equipamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e dos técnicos que compõem esta equipe de trabalho. Desta forma, proporciona uma ferramenta potente de participação popular na construção, sustentação e organização do serviço, em diferentes conjunturas. Esse encontro tem por finalidade produzir uma agenda de atividades externas mensais nesse equipamento, sendo este um agenciador da RAPS, que participa ativamente em uma aposta de desinstitucionalização das estratificações enrijecidas da sociedade e possibilitando maior (re)inserção dos sujeitos socialmente excluídos de direitos sociais e estigmatizados.
 

Parcerias: 

A instituição que promove o “Encontro de ideias” é o Centro de Convivência Trilhos do Engenho, é um dispositivo da RAPS no eixo da Atenção Básica, localizado no bairro de Engenho de Dentro.

A construção do grupo predomina usuários da RAPS que apresentam maior possibilidade de autonomia e trânsito pela cidade, sendo pessoas que fazem acompanhamento psicossocial em dispositivos de diferentes bairros. Participam também usuários da Atenção Básica, estudantes e trabalhadores.

Objetivo: 

O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a potência do Encontro de Ideias, enquanto ferramenta que possibilita novos modos dos sujeitos estarem na vida.

Passo a passo: 

Utilizamos o método de cartografia desse grupo de trabalho, a partir do encontro entre uma técnica desse dispositivo e de uma acadêmica bolsista que iniciara estágio extracurricular nesse equipamento e das análises produzidas a partir da participação delas neste grupo. 

Percebemos que, em grupo, além dos desejos de conhecer e visitar espaços culturais e/ou públicos da cidade, aparecem as produções desejantes de habitar espaços e territórios até então inacessíveis, seja por estigma ou por condição socioeconômica. 

Nesse espaço são discutidas as questões pertinentes ao deslocamento físico pela cidade, como as condições de mobilidade, as diferenças socioeconômicas, formas de construção coletiva de habitar alguns espaços na cidade, como divulgar os encaminhamentos e como lidar às vezes com a impossibilidade de acesso. São encontrados e discutidos também os desafios de (com)viver com as diferenças no coletivo.

Efeitos e resultados: 

Hoje é possível observar desdobramentos desse encontro coletivo, quando alguns participantes replicam o movimento do encontro, reproduzindo as informações para os dispositivos de outros territórios, construindo e organizando possibilidades outras de participação nas atividades externas daqueles que, pela distância, não conseguem chegar ao espaço físico onde ocorre a maioria dos encontros. Entendendo esse desdobramento, criou-se o Encontro de Ideias Itinerante como uma forma de viabilizar a participação e construção desses encontros em dispositivos localizados em territórios geograficamente distante, e de certa forma possibilitar uma troca dessa ferramenta para que outros dispositivos também se utilizem dela no dia - a – dia de seus serviços, visando um maior diálogo com a comunidade do entorno. Ainda encontramos como desafio a dificuldade de mobilidade nos transportes e de explorar e visibilizar espaços da cidade localizados em territórios não popularmente turísticos, em bairros da periferia da cidade.